Qualquer
pessoa já viveu essa situação: um fiel protestante aborda-lhe com
acusações contra a Igreja Católica, a partir de versículos
bíblicos decorados e perguntas sobre o fundamento bíblico de
doutrinas e práticas católicas. É uma estratégia simples e
eficiente para “captar” católicos, no curto prazo, e fomentar o
agnosticismo e o ateísmo no longo prazo, e é baseada, como toda
estratégia de marketing e propaganda, em ilusão e oportunismo.
Nesse artigo quero mostrar como e porque funciona, seus efeitos, e
como neutralizar esse tipo de abordagem proselitista (= que tenta
retirar fieis de uma religião para outra).
Antes
de tudo, vejamos como funciona a ilusão. Um ilusionista não diz ao
público em que acreditar, ele apenas faz o público acreditar no que
viu, ou melhor, no que o ilusionista mostra. E aí está o truque: o
ilusionista é uma pessoa versada em selecionar informações
(visuais), ou seja, em mostrar apenas o que lhe interessa que o
público veja.
Por
exemplo, um ilusionista sempre tem assistentes de palco,
invariavelmente belas mulheres com trajes chamativos. Elas entram em
cena justamente em momentos críticos da apresentação. É fato mais
que sabido que a função das assistentes é distrair o público,
captando seu olhar enquanto o truque se processa. E então, quando o
ilusionista volta à cena, o truque já está consumado e os olhos
parecem confirmar a ilusão.
O
ponto chave é que, na técnica da ilusão, o ilusionista faz o
público olhar para o que ele quer. É o mesmo na propaganda: um
comercial de um suco ou iogurte diz quanto de fruta verdadeira ele
possui, mas não quanto de conservantes e sódio; um comercial de
produtos dietéticos diz que ele tem o mesmo sabor do produto com
açúcar, mas não os riscos dos produtos que proporcionam esse
sabor, e assim por diante.
Essa,
contudo, ainda é metade da estória. Dois produtos concorrentes
terão essencialmente as mesmas características e farão a mesma
propaganda, então é preciso usar técnicas de tomada de mercado, e
uma delas usa a mais elementar de todas as formas de ataque
comunicacional: a difamação.
A
difamação é um dos meios mais antigos utilizados pelo ser humano
para atingir objetivos sociais, provavelmente é tão antiga quanto a
comunicação. Qualquer pessoa adulta já foi vítima dela, pois
pessoas interessadas em um cargo, um amigo ou um(a) companheiro(a)
que está com outra pessoa frequentemente usam da difamação. E nem
sempre a difamação se faz por fatos inverídicos, basta que eles
pareçam negativos, como uma suposta falta de diligência no
trabalho, ou a não exclusividade de uma amizade, etc. O fundamental
da difamação é despertar desconfiança, um sentimento de ter sido
enganado, mesmo que isso não seja verdade. Quem se sente assim tem
dificuldade para ouvir o acusado, e torna-se disponível para ouvir
terceiros, especialmente aquele que parece ter-lhe “aberto os
olhos”. É uma técnica banal de manipulação
Mas
a ilusão, e mesmo a difamação, ainda requerem um terceiro elemento
para funcionarem: a comunicação persuasiva. Quer dizer, a
comunicação que atinge diretamente os conceitos e pressupostos do
ouvinte, de tal modo a poder jogar com eles. Significa dizer que o
propagandista precisa dizer algo que entre nos ouvidos e na mente do
ouvinte, que o atinja, que mexa com ele. Precisa falar coisas que
para o ouvinte tenham significado e importância.
Hoje,
empresas pagam rios de dinheiro por informações de potenciais
clientes, querem saber o que assistem, o que leem, quais são seus
hábitos. O motivo é simples: oferecer o possível cliente quer
comprar. A persuasão está em apresentar ao algo que já encontra no
cliente interesses e predisposições, por isso seus hábitos de
consumo são mapeados com estatísticas geradas por mecanismos de
buscas e sites de compras.
Com
essas ideias em mente podemos facilmente desnudar a estratégia de
persuasão proselitista empregada por muitos protestantes.
Primeiro,
ela visa diretamente, e quase exclusivamente, os católicos. O
protestantismo no Brasil cresceu à medida que o catolicismo
diminuiu, e ao mesmo tempo aumentaram o espiritismo, o agnosticismo e
o ateísmo. Nada disso é coincidência.
O
católico tem fé na Bíblia, crê em Deus, em Jesus Cristo, no
Espírito Santo, tem esperança na salvação, conhece a noção de
pecado, etc. Um proselitista protestante precisa apenas manipular
esses conceitos contra a Igreja. Por isso a retórica construída
sobre citações decoradas da Bíblia.
Esses
versículos decorados também possuem uma importante função
ilusiva, pois impedem que o ouvinte católico, que reconhece a
autoridade da Bíblia, pesquise, tire dúvidas, veja os trechos por
si mesmo com calma, com orientação, com a leitura de material
auxiliar como notas de rodapé ou textos paralelos.
Mas
o elemento fundamental da ilusão, sem dúvida é o foco na Igreja
Católica. O proselitista protestante quase não fala da própria
crença, mas da fé católica, muitas vezes distorcida, e sempre em
contraste com partes isoladas da Bíblia que ele tem selecionadas e
decoradas.
Portanto,
é um discurso que usa técnicas de ilusão e manipulação, simples,
corriqueiras, mas eficazes: utiliza linguagem, conceitos, figuras e
aspirações que já se sabe que o ouvinte aceita e considera (a
Bíblia, Deus, Jesus...); faz com que o foco da “conversa” (é
mais uma mistura de ataque verbal e interrogatório) é posto no que
o proselitista previamente demarca, fazendo o ouvinte católico olhar
apenas para um aparente contraste entre a Igreja e trechos da Bíblia
isolados previamente e decorados para serem rapidamente citados; e
faz com que o ouvinte católico sinta-se decepcionado, enganado e
triste com a Igreja Católica por meio da difamação.
Quem
presta ouvidos a um discurso como esse, sem consciência de que se
trata de um discurso manipulador, e especialmente se não tem
espírito de prudência, sabedoria, ciência, sai do “ataque” já
preparado para desconfiar de qualquer resposta que venha da Igreja
Católica a partir daí. Fica como aquelas pessoas que “tiveram a
cabeça feita” contra alguém: tudo que essa pessoa fizer será
interpretado de modo negativo. Portanto, o católico nessa situação
tornou-se protestante, mesmo que ainda não o declare.
É
importante acrescentar dois pontos aqui. Primeiro, tudo indica que
existe um interesse enorme na “conversão” dos católicos às
seitas protestantes, fundamentado essencialmente no lucro. Está aí
a olhos vistos o quanto “pastores” de seitas tornam-se ricos à
base do dízimo dos fieis (necessariamente de 10% da renda bruta,
algo cujo fundamento é contestado até por estudiosos protestantes)
e de ofertas generosas muito incentivadas. Já os que fazem
proselitismo, os que vão a campo, aparentemente tendem a ser pessoas
mais simples, que foram intensamente doutrinadas, que realmente
acreditam no que pregam e foram treinadas para convencer outros.
Segundo:
a longo prazo o proselitismo protestante enfraquece o Cristianismo,
conduz ao agnosticismo e ao ateísmo. Como já salientado não é
coincidência que os três fatores têm andado juntos, a diminuição
do número de católicos, o aumento do número de protestantes, e o
aumento do número de descrentes. A razão é simples e óbvia.
Primeiro, a técnica proselitista protestante somente tem efeito
sobre católicos ou cristãos de outras linhas, não tem qualquer
eficácia com ateus e agnósticos, pois para estes Bíblia, Deus,
Jesus, não fazem parte de uma linguagem persuasiva. Segundo, a
desconfiança, uma vez instalada, pode não desaparecer. O
“ex-católico” é facilmente convencido a se mudar de seita
novamente, pois as seitas concorrem entre si. Após várias mudanças,
a tendência é a decepção, pela percepção de que são todas
igualmente defeituosas. Mas como a pessoa já formou uma mentalidade
protestante, ao invés do retorno ao Catolicismo, maior é a
tendência a alternativas como ser um cristão sem igreja (algo
totalmente contrário ao ensinado na Bíblia), espírita, agnóstico
ou ateu.
Portanto,
a questão é grave, e a oposição ao proselitismo protestante tem
motivos muito mais profundos que uma suposta “disputa de mercado
religioso”, como observadores não católicos podem supor. Trata-se
realmente de salvar almas.
Então,
como neutralizar o discurso proselitista protestante?
Do
mesmo modo que se neutraliza qualquer outra ilusão ou propaganda:
olhando para o outro lado, ou seja, para onde o ilusionista não quer
que se olhe.
Se
estivéssemos diante da propaganda de um produto, o que se poderia
fazer seria perguntar o que a propaganda não conta: qual o teor de
sódio, quais os conservantes utilizados, quais as pesquisas sobre os
riscos à saúde do adoçante usado?
No
caso do discurso proselitista basta deslocar o foco da “conversa”,
fazendo interlocutor falar da seita dele, mas não aquilo que ele
gosta de mostrar. Questões como onde surgiu a seita, quem é o seu
fundador, como era a vida dessa pessoa, e no que se tornou agora, não
estaria essa pessoa interessada em lucro e riqueza, quem é o
“pastor” local, como é seu passado, qual a situação dele hoje?
Essas
são boas perguntas, mas acredito que haja uma linha ainda melhor,
apresento abaixo um exemplo de resposta a um hipotético proselitista
protestante:
“-
Bem, já vi o que senhor gosta de falar sobre religião, e eu quero
saber mais sobre a sua religião. A primeira coisa que eu quero saber
é se vocês são fieis à Tradição recebida dos Apóstolos, como
determina 2 Tessalonicenses 2,15: “fiquem firmes e guardem as
tradições que lhe foram ensinadas”?”
“-
A segunda coisa que eu quero saber é se a sua igreja recebeu
autoridade por sucessão dos apóstolos, que receberam autoridade do
Cristo, como está em Mateus 18,18, e que foi transmitida mediante a
constituição de bispos em sucessão (Tito 1, 5-9; 1 Timóteo 3; 2
Timóteo 2,2).”
No
caso de haver resposta, no sentido de apelar para a autoridade única
e exclusiva da Bíblia, pode-se apresentar algo como esse
questionamento:
“ -
Ah, sim, nesse caso, mostre-me isso na Bíblia, e explique porque a
mesma Bíblia diz que a Igreja é o Corpo de Cristo (Colossenses
1,18) e o fundamento da verdade (1 Timóteo 3,15), e porque ainda
assim o senhor acredita que pode fundamentar sua fé apenas na
Bíblia?”
Simplesmente
não há uma resposta protestante para essas questões, uma vez que
nenhuma seita protestante pode fundamentar sua autoridade na sucessão
dos apóstolos, nem guarda a Tradição dos Apóstolos (que os faria
ficar unidos à Igreja e não contra ela), e, portanto, precisam
necessariamente recorrer à pressuposta autoridade única e exclusiva
da Bíblia, a qual não somente não se encontra na Bíblia como a
essa contradiz direta e claramente.
É
fundamental que o leitor tenha em mente que, diante de um
propagandista de qualquer espécie, não se deve seguir o roteiro do
interlocutor, pois, como marqueteiro e propagandista ele está
preparado (pode ter sido até intensamento treinado) para vencer na
linha de raciocínio que ele propõe; ao contrário, faça o
interlocutor entrar no seu roteiro, responder aos seus
questionamentos, mostrar os pontos que ele quer esconder, ou dos
quais sequer tem consciência. Esta é uma importante medida
antimanipulação, válida para qualquer caso.
Como
observação final, deixo registrado que não é todo o
Protestantismo que segue hoje essa linha proselitista. Especialmente
entre as denominações engajadas no projeto ecumênico, essa atitude
tende a não ser incentivada. Entretanto, ainda é grande a tendência
ao proselitismo no Protestantismo, especialmente num país ainda
majoritariamente católico, como é o Brasil. Até porque, novas
seitas estão sempre surgindo, e buscando adeptos.
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