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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A CONTRADIÇÃO INSANÁVEL DO PROTESTANTISMO, SEGUNDO OS PROTESTANTES



Todo o Protestantismo se estrutura a partir do princípio Sola Scriptura, somente a Bíblia. Como disse o famoso Charles Haddon Spurgeon “A Bíblia, toda a Bíblia, e nada mais que a Bíblia é a religião dos protestantes” (“The Eternal Name”).

De fato, temos que “Sola Scriptura já foi chamado o princípio formal da Reforma, no sentido de que se posiciona no início de tudo e assim direciona e forma tudo que os cristãos afirmam como cristãos” (James Montgomery Boice, “Reforma hoje”, 1999, p. 7; evidentemente se referindo aos protestantes pelo termo “cristãos”).

Também já se disse que “Sola scriptura é um dos princípios fundamentais da Reforma Protestante. Alguém poderia até dizer que outras grandes doutrinas da Reforma (tais como sola gratia e sola fide) são logicamente dependentes do sola scriptura” (Brian M. Schwertley, “Sola Scriptura e o princípio regulador do culto”, 2001, p. 11).

E até já se admitiu que “se Roma pode provar sua posição contra sola Scriptura, ela aniquila todos os argumentos da Reforma com um golpe fatal” (John MacArthur Jr., “A suficiência da palavra escrita”, em “Sola Scriptura numa época sem fundamentos”, 2000, pp. 135-136).

Um dos princípios fundamentais do Sola Scriptura é o livre exame da Bíblia, pois, se a plena liberdade no exame da Bíblia for negada, impondo-se algum padrão interpretativo ao crente, então não há mais Sola Scriptura, mas a Escritura e uma certa doutrina.

Assim, Lutero já defendia uma “compreensão totalmente livre das Escrituras” (“Comentário de Lutero sobre a 13ª tese a respeito do poder do Papa”, “Obras selecionadas”, v. 1, 1987, p. 315).

Na mesma linha, o presbiteriano A. A. Hodge, ao interpretar a Confissão de Fé de Westminster, reafirma o Livre Exame dizendo que “A doutrina protestante consiste em: (…) as Escrituras são a única voz autoritativa na Igreja; a qual deve ser interpretada e aplicada por cada pessoa a si mesma” (“Confissão de fé de Westminster comentada por A. A. Hodge”, 1999, p. 72).

E mais recentemente, mostrando a permanência e generalidade dessa visão, a Aliança de Evangélicos Confessionais, que reúne enorme gama de denominações protestantes espalhadas pelo mundo, reafirmando o Sola Scriptura na Declaração de Cambridge de 1996, manifestou expressamente o Livre Exame da Bíblia ao declarar: “Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente” (James M. Boice e outros, “Reforma hoje”, 1999, p. 13).

Isso posto, convém examinar uma interessante definição do Sola Scriptura que é dada pelo portal “The Interactive Bible” (http://www.bible.ca/) que alega ser uma igreja local independente baseada na Bíblia com várias igrejas irmãs pelo mundo.

No texto “Definindo o Sola Scriptura corretamente”, afirma que “ele significa exatamente o que diz, a bíblia sozinha!” (“Bible alone” no original em inglês, expressão com a qual normalmente se traduz Sola Scriptura do latim para tal língua).

Prossegue afirmando que “Sola Scriptura significa”:
1. A Bíblia sozinha sem credos (ie Credo Apostólico, Credo Niceno);
2. A Bíblia sozinha sem concílios (ie Concílios Ecumênicos.);
3. A Bíblia sozinha sem cânones eclesiásticos (ie Cânones de Dort);
4. A Bíblia sozinha sem declarações de fé (muitas igrejas têm uma);
5. A Bíblia sozinha sem tradição oral (a menos que encontrada na Bíblia);
6. A Bíblia sozinha sem tradição eclesiástica (a menos que encontrada na Bíblia);
7. A Bíblia sozinha sem um “intérprete eclesiástico” (Católicos, Ortodoxos, Testemunhas de Jeová, todos dizem que somente a Igreja pode corretamente interpretar a Bíblia, não o indivíduo);
8. A Bíblia sozinha sem iluminação individual do Espírito Santo (Evangélicos, Batistas, Carismáticos e Calvinistas acreditam que eles são pessoalmente guiados pelo Espírito Santo para corretamente interpretar a Bíblia);
9. A Bíblia sozinha sem profecias e inspiração modernas (Pentecostais, Carismáticos e muitos dos cultos do Século XIX: Mórmons, Adventistas, todos afirmam ter profetas vivos.).”
(Introduction and Overview to Sola Scriptura”, endereço eletrônico http://www.bible.ca/sola-scriptura-start.htm, tradução nossa do texto em inglês).

Repare que é feita uma contundente crítica a praticamente todas as denominações protestantes, que em primeiro afirmam o Sola Scriptura, mas logo depois à Escritura somam algum tipo de doutrina ou autoridade oficial.

O texto também faz uma distinção entre “Igrejas Anti-Sola Scriptura”, que incluem a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais, de fato esse é o caso, e “Igrejas Pseudo-Sola Scriptura”, ou seja, que falsamente alegam adotar o Sola Scriptura, e que incluem Carismáticos, Pentecostais, Evangélicos, Batistas, “todas as igrejas da Reforma”, e Calvinistas, é dizer, praticamente todo o Protestantismo.

Assim, o que esse site/organização, fundamentalista sem dúvida, mostra é a absoluta incoerência de todo o Protestantismo ao proclamar “Sola Scriptura” e depois adotar credos, declarações de fé, algum tipo de autoridade, seja profeta, seja igreja, ou acrescentar supostas profecias.

Nesse sentido, prossegue afirmando: “Esta é a verdade”: (…) Apelar para credos, como regra de fé traz uma contradição irreconciliável tanto com a Bíblia quanto entre os diferentes credos entre si. A iluminação interior do Espírito Santo para compreender a Escritura é comprovadamente uma falsa doutrina porque o Espírito não vai revelar doutrinas diferentes para pessoas diferentes. Aqueles que acreditam na iluminação interior do Espírito Santo são, portanto, autoenganados pensando que tudo o que eles acreditam é verdade porque o Espírito Santo levou a essa crença”.

Sem dúvida alguma, trata-se de levar o Sola Scriptura às suas últimas consequências, entretanto, consequências necessárias desse princípio. Com efeito, essa visão não representa uma ruptura com o Protestantismo de origem no século XVI, mas seu genuíno desenvolvimento, levando os seus princípios à mais pura expressão.

Ora, se a Bíblia é a única regra de fé e de moral, se somente por ela, livremente examinada, tudo se deve avaliar, e se com esse princípio se rejeita tanto a Tradição como o Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana, que vinham se desenvolvendo desde o tempo dos Apóstolos, também se deve rejeitar todos os outros credos, declarações de fé, doutrinas (de “reformadores”), catecismos, tradições, elaborados e desenvolvidos a partir do século XVI por seitas e líderes protestantes.

Deveras, não é coerente, a partir do Sola Scriptura (com seu Livre Exame da Bíblia) simplesmente trocar uma tradição e um magistério eclesiástico por outro. Portanto, a rejeição de toda tradição e doutrina é uma consequência natural da primeira rejeição da Tradição e do Magistério da Igreja Católica Apostólica Romana, feita por Lutero no século XVI e seguida por tantos outros.

Mas tal rejeição leva a um outro paradoxo já implícito nas afirmações acima transcritas: se toda a doutrina, princípio, pressuposto, tudo que não é estritamente a palavra da Bíblia, deve ser rejeitado, então o Sola Scriptura também deve ser, por ser doutrina/princípio/pressuposto tanto quanto os demais, já que não está enunciado claramente (na verdade, nem implicitamente) na Bíblia.

De fato, repare que não há um versículo bíblico citado em nenhuma definição do Sola Scriptura transcrita acima, embora todas afirmem seguir a Escritura, somente a Escritura e nada mais que a Escritura.

Conclusão: o Sola Scriptura é autodestrutivo, pois exige a rejeição de si mesmo.

Assim, se o Sola Scriptura é o princípio fundamental do Protestantismo, o princípio formal da Reforma, sem o qual todo o Protestantismo não pode se sustentar, como afirmado pelos próprios teólogos protestantes, então a inevitável conclusão é que o Protestantismo tem um erro fatal de princípio, sendo absolutamente insustentável do ponto de vista lógico.


Parece que somente o ódio à Igreja de Cristo explica que esse movimento tenha surgido e se expandido, embora de modo fragmentário, já há 500 anos. Algo que se compreende olhando para o povo que diz: “soltem Barrabás!”.

2 comentários:

  1. Ótimo texto. Trocam a Tradição e o Magistério da Santa Igreja por imitações baratas, sem se derem conta que estão sendo contrário ao princípio que dizem professar.

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