O
Protestantismo se estrutura a partir da doutrina de que tudo deve
estar expresso na Bíblia – Sola Scriptura – a qual deve ser
interpretada livre e literalmente. Daí todas as acusações contra a
Igreja Católica seguirem a mesma ladainha: isto não está na
Bíblia, aquilo não está na Bíblia, o livro tal, capítulo,
versículo tal diz isso... a conversa de sempre.
Cabe
ressaltar a dependência total e absoluta do Protestantismo para com
o Sola Scriptura. Quando o Protestantismo surgiu o Cristianismo já
tinha cerca de 1500 anos, e a Autoridade da Igreja Católica
Apostólica Romana no Ocidente, e das Igrejas Ortodoxas no Oriente,
era algo pacífico, sem nenhuma contestação séria. A Autoridade da
Igreja vinha da sucessão apostólica do bispo de Roma, o Papa. Ser
cristão, no Ocidente, era pertencer a essa Igreja, não pertencer a
esta era não ser cristão. Como o Protestantismo não podia invocar
essa autoridade, mas precisava confrontá-la, o recurso foi proclamar
Somente a Bíblia, isto é, ninguém tem autoridade para ensinar a
fé, nem interpretar a Bíblia, e a Tradição não pode sustentar
pontos de fé.
Já
escrevi várias vezes, e até um livro (você
pode baixar e ler aqui), sobre o desacerto dessa doutrina, mas
como o tema é recorrente, escrevo esse artigo para esclarecer, de
modo simples e direto, o porque simplesmente não há motivo para dar
ouvidos aos discursos protestestantes contra a Igreja Católica.
O
problema todo é que, segundo o Sola Scriptura, tudo tem que estar
expresso na Bíblia (como os protestantes exigem que os dogmas e
práticas católicas estejam), então essa exigência mesma precisa
estar expressa na Bíblia. Óbvio!
Claro
que aí os defensores do Protestantismo apresentam este ou aquele
versículo que supostamente teriam essa doutrina implícita (espera
aí, mas não tem que estar explícito? Não é o que exigem dos
dogmas católicos?...).
Porém,
quem já estudou teoria dos conjuntos (isso inclui crianças do 5º
ano do ensino fundamental, lembra?, “pertence a”, “não
pertence a”, “está contido”, “não está contido”, e sim,
isso serve para alguma coisa!), sabe muito bem que para dizer que um
elemento não pertence a um conjunto é preciso ter o número e a
identidade de seus elementos. Como o alfabeto: o álef (letra do
alfabeto hebraico) não faz parte do alfabeto da língua portuguesa
porque este tem definidas as 26 letras que o compõem, “abcd...xyz”,
e o álef não faz parte, não pertence a esse conjunto. Em outras
palavras, só é possível haver exclusão de um conjunto, se o
conjunto é fechado, definido e determinado.
O
que isso tem a ver? Simples, se a Bíblia é o conjunto exclusivo da
Palavra de Deus, ela precisa ser um conjunto fechado, definido, com
seus elementos determinados. Mas eles são, correto? Sim, mas não
pela própria Bíblia. Não há nenhum livro bíblico que diga o
número e a identidade dos elementos (livros) que compõe a Bíblia.
Portanto, essa definição é extrabíblica. Assim, se somente vale o
que está na Bíblia, a própria Bíblia não existe...
Por
outro lado, se a própria Bíblia não define o próprio conjunto,
então ela não pode e nem poderia afirmar que esse conjunto é
exclusivo (somente ele é a Palavra de Deus). Então, vãs são todas
as tentativas de provar o Sola Scriptura com base na Escritura
(Bíblia). E se ele não está na Escritura, e se somente é verdade
o que está na Escritura, ele se destroi. E se o fundamento cai, todo
o edifício cai com ele (já viu um prédio no ar?).
Sem
o Sola Scriptura, sem o Protestantismo. Sobra a Autoridade da Igreja,
e a Tradição ao lado e integrada à Escritura. Nem tudo tem que
estar na Bíblia, e o texto da Bíblia tem interpretação oficial,
dogmática, no Magistério, em que a Igreja exerce sua Autoridade.
Portanto,
até que se prove que o afirmado acima é falso, e que o Sola
Scriptura é verdadeiro, que este é clara e expressamente ensinado
pela Bíblia (o que, na verdade, não pode ser feito, por uma questão
de lógica), nenhuma afirmação do Protestantismo contra a Igreja
Católica, nenhuma, nada, merece consideração.
FIM