PUBLICAMOS
O BELÍSSIMO testemunho de conversão de João Marcos, leitor que
veio graciosamente compartilhar conosco sua inspiradora história.
Consideramos que o texto tenha em si grande valor, porque além de
motivar tantas outras pessoas que vivem histórias semelhantes (e que
nos contatam quase diariamente), contém uma boa lista de indicações
bibliográficas e de webpagesque
lhe foram de auxílio, – e que certamente poderão auxiliar também
a muitos outros de nossos leitores. Segue...
“Não existem cem pessoas que odeiam a Igreja Católica, mas existem milhões que odeiam aquilo que pensam ser a Igreja Católica.”
(Venerável Arcebispo Fulton Sheen)
Este
é o relato da minha conversão ao Catolicismo. É uma história
pessoal, não um tratado de Teologia nem uma tentativa para converter
alguém. Escrevi este relato para organizar meus pensamentos e
facilitar quando perguntarem os motivos da minha conversão. No
decorrer do texto indiquei vários livros ao leitor interessado em
compreender os motivos que me levaram a tomar a decisão de seguir a
Igreja Católica Apostólica Romana. Ao final eu proponho um roteiro
de leituras para entender a fé católica e examinar as acusações
que fazem à Igreja.
AVISO:
Peço que leia os livros recomendados, em especial aqueles destacados
em negrito, antes de tentar rebater as palavras aqui escritas. Não
voltei para a Igreja por capricho ou comodismo; essa decisão custou
muito esforço, oração e alguns sacrifícios. Esperar o mesmo do
leitor é um ato de justiça. Quando o leitor discordar de algum
ponto, o correto é buscar conhecer mais profundamente o que ensina a
Igreja sobre o tema, o que dizem os grandes padres e apologistas
católicos e então comparar com suas crenças. Aí sim o leitor
poderá fazer um juízo sobre a fé. Só assim as suas palavras terão
valor suficiente para serem ouvidas por mim. Ou como dizia um célebre
e polêmico brasileiro: “Eu acho que o direito de ter opinião é
proporcional ao interesse sincero que você tem pelo assunto. Se você
não tem interesse pelo assunto para você sequer ler alguma coisa,
por que nós devemos ter interesse de ouvir a sua opinião? ” (True
Outspeak – 10.03.2008)
*
* *
Sempre
fui cristão. Fui batizado na Igreja Católica quando eu era um bebê.
Por volta dos meus 6 anos, eu e minha família fomos para a igreja
protestante. Desde então, minha família frequentou inúmeras
denominações, quase todas tradicionais, e nunca mais tive contato
com o catolicismo.
A
'Idade das Trevas'
Com
o advento do "Facebook" logo me envolvi em
discussões com ateus (eu prefiro chamá-los “neoateus”, por
fazerem parte de uma geração recente de ateus militantes e
superficiais cujo maior “guru” é Richard Dawkins, mas tem entre
seus expositores famosos Neil deGrasse Tyson, Sam Harris e
Christopher Hitchens). Não tardou em aparecer o famoso argumento da
Idade das Trevas: durante o período de mil anos entre 500-1500 a
Igreja Católica oprimiu o Ocidente através do misticismo e da
ocultação do conhecimento, além de perseguir oponentes por meio da
Inquisição. Isto bastava para comprovar que a religião,
especialmente o Cristianismo, está na contramão do progresso, da
ciência e da liberdade individual.
Sendo
cristão é meu dever conhecer e testemunhar da verdade. Então
comecei a estudar a tal Idade das Trevas para verificar se a Igreja
foi responsável por tamanha crueldade. Pobre de mim! Descobri que
aconteceu exatamente o contrário: num milênio de caos, fragmentação
política, invasões de povos selvagens e peste, a Igreja foi a única
instituição ocidental a manter-se estável, um verdadeiro porto
seguro. O conhecimento da época dos gregos e romanos foi preservado
através de muito trabalho dos clérigos católicos, como por exemplo
os monges copistas, responsáveis por copiar livros inteiros à mão.
Em vez de combater a ciência, a Igreja foi por muitos séculos a
única instituição a fomentar o desenvolvimento científico na
Europa. Ela foi a criadora das universidades, seus clérigos
traduziram muitas obras da época romana e grega, além de permitir
que debates acalorados com pensadores de outras culturas acontecessem
dentro das suas universidades.
Essas e outras contribuições da Igreja Católica ao mundo ocidental estão cuidadosamente listadas no livro "Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental", de Thomas Woods Jr (baixe gratuitamente aqui).
Quanto à famosa Inquisição minha surpresa foi ainda maior: aproximadamente 2000 pessoas foram condenadas à morte pelos Tribunais da Inquisição medievais (1231-1400dC). Durante as inquisições da Espanha e Portugal, as mais violentas, 6000 pessoas morreram nos 500 anos de duração dos tribunais eclesiásticos ibéricos. Considerando a população ibérica e europeia nos níveis da Idade Média (bem baixos, o que aumentará o valor que mostrarei a seguir, de forma a mostrar ao leitor o “pior caso” da Inquisição), temos que a pior inquisição, a ibérica (de Portugal e Espanha) condenou à morte 17 pessoas a cada 100 mil habitantes, por ano. A inquisição medieval, mais branda, condenou à morte 0,08 pessoa a cada 100 mil habitantes, por ano (fontes: Fordham University / Catholic Bridge). Só para comparar, no Brasil 22 pessoas a cada 100 mil habitantes morreram em acidentes de trânsito (dados de 2013).
O grande historiador protestante Phillip Schaff afirma em seu livro "History of the Christian Church” (vol. V, New York, 1907, p.524):
“Para vergonha das igrejas protestantes, a intolerância religiosa e até a condenação à morte continuaram muito tempo depois da Reforma. Em Genebra esta perniciosa teoria foi posta em prática pelo Estado e pela igreja, admitindo até mesmo o uso de tortura e do testemunho de crianças contra seus próprios pais, com a autorização de Calvino. Bullinger, na Segunda Confissão Helvética, anunciou o princípio pelo qual a heresia poderia ser punida como os crimes de assassinato ou traição.”
Não se trata da tática petista de justificar um erro apontando o erro do outro. Tortura é inaceitável sob qualquer ponto de vista. No entanto, devemos ser justos e agir com a mesma rigidez no caso dos morticínios realizados por outros grupos, como protestantes (veja o caso dos Anabatistas e a caça às bruxas, fenômeno exclusivamente protestante – saiba mais aqui), islâmicos (sem comentários, os franceses que o digam) e mesmo ateus: durante a Revolução Francesa, que nos ensinam ter sido fundamentada nos princípios de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”, foram mortas 140 mil pessoas em cinco anos segundo a Enciclopédia Encarta. Quer dizer, uma revolução de cunho ateu matou 100 pessoas a cada 100 mil habitantes por ano, 5 vezes mais do que a pior inquisição (só pra constar, no Brasil morreram 28 pessoas a cada 100 mil habitantes por homicídio em 2013: a Revolução Francesa matou 3 vezes mais que os criminosos brasileiros).
Para encerrar este assunto, a própria Igreja admitiu os abusos cometidos na Inquisição. Tanto que ela abriu os arquivos da Inquisição a um grupo de 30 historiadores reconhecidos internacionalmente, para que eles investigassem os fatos.
Todos esses fatos sobre a inquisição católica estão documentados em vários livros, entre os quais destaco: "Atas do Simpósio sobre a Inquisição" (1998), de Agostino Borromeo, "A Idade Média que não nos ensinaram", de Regine Pernoud, "Sete Mentiras sobre a Igreja Católica", de Diane Moczar.
Este
estudo sobre o papel essencial da Igreja Católica na Idade Média
fez com que eu a admirasse. Mas isso era só o começo. No início de
2015 decidi então conhecer a fé católica. Se o papel histórico da
Igreja Católica na Idade Média foi muito diferente do que me
ensinaram, será que a fé católica não me surpreenderia também?
Era isto o que eu precisava conferir.
Escolhi livros que explicassem a fé católica ao público protestante e testemunhos de conversões de protestantes ao catolicismo. São estes: "Catholicism for Protestants", de Shane Shaetzel, "Rome Sweet Home", de Scott e Kimberly Hahn (encontrado no Brasil sob o título 'Todos os Caminhos levam a Roma'), "Born Fundamentalist, born Again Catholic", de David Currie, e "A Fé Explicada", do Pe. Leo J. Trese. Todos os conceitos mencionados daqui em diante foram exaustivamente explicados nesses livros.
Da minha experiência pessoal, creio que os principais problemas dos protestantes/evangélicos com o Catolicismo são a veneração dos santos e de Maria. Existem outros pontos de conflito, mas estes dois são os primeiros que surgem à mente do protestante comum.
Naturalmente, estes foram os primeiros problemas que procurei por explicações. Tratam-se da Intercessão dos Santos. Por que o católico reza a Maria e aos santos? Isso não é idolatria? Não. O católico não considera a oração uma forma de adoração. Da mesma forma que pedimos oração a outros irmãos da igreja, o católico pede oração a pessoas que viveram vidas extraordinárias aqui e que agora estão vivas no Céu, diante de Deus.
Especificamente no caso de Maria, a mãe de Deus, creio que grande parte do problema protestante se resolva ao compreender como os católicos entendem a Intercessão dos Santos. Só resta acrescentar que ao católico é dogma de fé que Maria é a criatura mais santa dentre todas as criaturas de Deus. Os motivos dela ser assim considerada estão nos documentos da doutrina católica, e o estudo das doutrinas marianas chama-se Mariologia. Temos então o seguinte raciocínio:
1) A oração dos santos é mais eficaz porque eles estão em plena Comunhão com Deus, no Céu.
2) Maria é a mais santa dentre todos os santos.
3) Logo (aceitas as premissas 01 e 02), é razoável pedir que Maria interceda por mim diante de Cristo.
Ao entender isto, fica fácil entender também porque os católicos devotam tantas orações e cerimônias aos santos em geral e à Maria em particular. Eles não acreditam que santos são “deuses” e sim que os santos, hoje no Céu, são excelentes intercessores dos simples cristãos que estão aqui. Recomendo ler o que ensina oficialmente a Igreja a respeito de Maria: parágrafos 963-975 do Catecismo.
O último conceito que é útil estudar para entender os católicos neste assunto dos santos é a diferença entre adoração e veneração. Adoração é o culto prestado unicamente a Deus. Assim como na tradição judaica, o católico acredita que não existe verdadeira adoração sem oferecimento de sacrifício, que é o que acontece na Missa. O católico só oferece sacrifícios a Deus. Já a veneração é uma forma de prestar homenagem, uma demonstração pública de respeito. Da mesma maneira como homenageamos grandes personalidades políticas, artísticas ou dos negócios, o católico homenageia, dentro do contexto cristão, aqueles que viveram vidas exemplares.
Ao contrário do que muitos pensam, a Igreja tem 2 mil anos de idade e já estudou profundamente os Mandamentos de Moisés, em especial os dois primeiros (sobre a idolatria e imagens). O Catecismo faz um resumo (citando a Bíblia, como sempre) nos parágrafos 2129-2132.
Então, a meu ver, se é ilícito venerar os santos e encomendar-lhes orações, então é muito mais ilícito homenagear qualquer pessoa desta terra, ou pedir que algum irmão ore por mim. Se os santos, que viveram unicamente para Cristo, são indignos de homenagem, quão dignos seremos nós, meros mortais que não conseguem passar 01 dia se sacrificando por Deus?
Existem muitos bons livros dedicados a explicar a devoção mariana, seu surgimento e desenvolvimento na História e porque ela não é uma forma de idolatria. Recomendo três livros que tratam toda essa questão num único volume: "Behold your Mother", de Tim Staples; "Mary, Mother of the Son", de Mark Shea e "The Marian Mystery: Outline of a Mariology", de Denis Farkasfalvy. Estes livros demonstram que já nos primeiros séculos de Cristianismo havia devoção à Mãe de Deus.
Dos
motivos de não continuar protestante
Entender
essas práticas católicas serviria apenas para desmistificar a minha
visão do catolicismo. Não foi isso que me fez mudar de vida. Foi
somente quando estudei e refleti sobre dois assuntos pouco tratados
pelos protestantes que fiquei numa posição insustentável e tive
que tomar a decisão sobre minha fé.
O principal fundamento teológico do Protestantismo, isto é, de todas as denominações não-católicas que surgiram a partir do ano 1500 é o Sola Scriptura. Este princípio ensina que “somente a Escritura é a suprema autoridade em matéria de vida e doutrina; só ela é o árbitro de todas as controvérsias” (cf. http://mackenzie.br/6966.html, acesso em 26.7.2015). É ele que justifica a famosa pergunta dos "evangélicos": “Onde isso está na Bíblia?”. Esta é a pergunta que os católicos mais escutam dos protestantes.
O grande problema com o Sola Scriptura é que ele mesmo não é bíblico. Você leu isso mesmo. O princípio que afirma que a Bíblia é a única autoridade em matéria de fé não é bíblico. Não precisa acreditar em mim. Procure na Bíblia. Pergunte a qualquer teólogo protestante em qual parte da Bíblia está o Sola Scriptura. Ele não saberá responder. O que me deixou mais chocado foi descobrir que o Sola Scriptura é simplesmente aceito como um dogma, uma ideia que não precisa de provas [é irônico os protestantes acusarem os católicos de dogmáticos quando a base da crença protestante é um superdogma sem fundamento]. E isso não sou eu quem diz:
“Existem evidências internas e externas da inspiração e divina autoridade das Escrituras, mas estes atributos não são passíveis de 'prova'. A única evidência que importa é o “testemunho interno do Espírito” no coração do leitor. Ênfase de Calvino: 'A menos que haja essa certeza [pelo testemunho do Espírito], que é maior e mais forte que qualquer juízo humano, será fútil defender a autoridade da Escritura através de argumentos, ou apoiá-la com o consenso da Igreja, ou fortalecê-la com outros auxílios. A menos que seja posto este fundamento, ela sempre permanecerá incerta' (8.1.71).”
(Fonte: http://mackenzie.br/6966.html acesso em 26.07.2015)
Ou
seja, a “prova” de que uma interpretação particular da Bíblia
é inspirada por Deus é uma “certeza maior e mais forte que
qualquer juízo humano”. Basta se sentir certo para estar
correto(!).
Tome a seguinte afirmação: “Não existe verdade”. Quando alguém afirma isso já se contradiz, porque essa mesma frase é em si mesma uma verdade (ou a pessoa pensa que é uma verdade). Na verdade, o que a pessoa quis dizer é: “Não existe verdade – exceto esta aqui”. É um princípio arbitrário, afinal, só é verdade porque quem o enuncia diz que é verdade. Um princípio falho em si mesmo não pode ser verdade. É o mesmo problema do Sola Scriptura.
O Sola
Scriptura não encontra fundamentação bíblica e nem
histórica. Os cristãos primitivos, aqueles que viveram nos
primeiros 300 anos depois de Cristo, nunca pronunciaram o Sola
Scriptura, pelo contrário. Todos acreditavam na necessidade
de existir uma autoridade central, outorgada pelo próprio Cristo,
para interpretar as Escrituras. Um testemunho famoso (mas não o
único) é o de Santo Agostinho: “Eu não acreditaria no Evangelho,
se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (CIC,
119). Em sentido oposto, não há nenhum registro dos primeiros
cristãos afirmando que as Escrituras são a única e suprema
autoridade na fé.
Outro
problema com o Sola
Scriptura é
que nos primeiros 300 anos de Cristianismo não existia Bíblia. É
isso mesmo. O cânon, o conjunto dos livros cristãos que
formaram a Bíblia, só foi definido e ntre 367
e 405 dC (curiosamente,
até um historiador protestante reconhece estas datas: veja
aqui). Durante
todo esse período, qual foi a autoridade suprema dos cristãos
em matéria de fé? Pior: até a invenção da imprensa em 1455
pouquíssimos livros estavam em circulação, porque eram de difícil
produção e conservação. Assim, a quem os cristãos podiam
recorrer durante quase 1500 anos, já que poucos deles tinham acesso
às Escrituras?
Além
disso, “pelos frutos os conhecereis”: hoje existem dezenas de
milhares de denominações protestantes, e cada uma delas alega
possuir a “verdadeira interpretação” das Escrituras. Quem está
falando a verdade? Qual é a verdadeira fé e a verdadeira igreja?
Qual o modo correto de interpretar a Bíblia? O que vale pra hoje e o
que não vale mais? [o Espírito Santo entraria em evidente
contradição, ensinando uma coisa a determinada comunidade e outra
coisa diferente, – muitas vezes mesmo contraditória, – a uma
outra comunidade?]
Para
ilustrar a fragilidade do Sola Scriptura, elencarei os 5
pontos levantados no vídeo abaixo [já publicado anteriormente aqui
em 'O Fiel Católico']:
1) Onde
a Bíblia diz que eu devo provar alguma coisa pela Bíblia?
2) Por
que a minha interpretação da Bíblia (em meu caso, fundamentando a
doutrina católica) está errada e a sua correta? Eu também estou me
guiando pela Bíblia, nós só discordamos no que ela quer dizer.
3) Talvez
você não está compreendendo o significado correto da Bíblia. Um
exemplo: se eu lhe escrever o seguinte bilhete: “Eu não disse que
você roubou dinheiro.” você conseguiria entendê-lo? Parece que
sim, mas uma frase de 07 palavras pode ter vários significados. Pode
ser que EU não disse que você roubou dinheiro, mas alguém disse.
Pode ser que eu não DISSE, mas posso ter escrito ou pensado que você
roubou dinheiro. Pode ser que eu não disse que VOCÊ roubou
dinheiro, posso ter falado de outra pessoa. Pode ser que eu não
disse que você ROUBOU dinheiro, você pode ter perdido ou queimado
dinheiro. Pode ser que eu não disse que você roubou DINHEIRO, você
pode ter roubado outra coisa. Uma simples frase de 07 palavras tem
pelo menos cinco significados diferentes, a depender da ênfase dada
a cada palavra. Agora me responda: não é a Bíblia muito mais
complicada que uma frase de 07 palavras?
4) O
que está em confronto não é o que a Bíblia ensina, mas o que nós
interpretamos da Bíblia.
5) De
onde vieram os livros do Novo Testamento? Como eles foram parar na
Bíblia? Quem afirma rejeitar a Tradição porque segue apenas a
Bíblia não pode fazer isso, porque foi a própria Tradição
católica quem escolheu quais livros pertencem ao Novo Testamento. Em
lugar algum a Bíblia diz quais livros fazem parte dela. Então, o
simples fato de ser “biblista” só é possível graças à
Tradição católica.
A Bíblia não caiu do Céu. Durante quase 400 anos os cristãos lutaram para reconhecer, aos poucos, os livros inspirados, até que concílios católicos, compostos por bispos católicos, definiram os livros da Bíblia. Foi a autoridade da Igreja que encerrou a discussão sobre os livros inspirados.
A Bíblia não caiu do Céu. Durante quase 400 anos os cristãos lutaram para reconhecer, aos poucos, os livros inspirados, até que concílios católicos, compostos por bispos católicos, definiram os livros da Bíblia. Foi a autoridade da Igreja que encerrou a discussão sobre os livros inspirados.
Então, para
encerrar este assunto Sola Scriptura, e
resumindo toda a questão: não é bíblico, não é lógico, não é
histórico e teve consequências catastróficas para o Cristianismo.
Foi um conceito inventado depois de 1500 anos de Cristianismo. Sendo
assim, é no mínimo prudente considerar que a posição católica
(de acreditar na autoridade da Bíblia, mas também na da Tradição
conservada pela Igreja) é no mínimo plausível. Não estou
pedindo para você se converter, apenas para reconhecer que não é
absurdo a Palavra de Deus não se restringir a um livro. Isto é o
mínimo que se espera de alguém honesto consigo mesmo.
Por
fim, o problema Sola Scriptura foi discutido
exaustivamente por muitos autores católicos. Alguns livros que eu
recomendaria a quem deseja saber como o católico trata esse
princípio seriam estes: "Not By Scripture Alone",
de Robert Sungenis (uma verdadeira 'bomba atômica' contra o Sola
Scriptura), e "100 Biblical Arguments Against Sola
Scriptura", de Dave Armstrong.
Diante
de tudo isso, eu não podia mais aceitar o fundamento do
Protestantismo, o Sola Scriptura. A Bíblia sozinha não
é suficiente para resolver todos os conflitos da vida cristã.
Simplesmente havia coisas demais sendo “deduzidas” (eu prefiro
dizer ‘inventadas’) no calor do momento de uma época. Isso sem
mencionar que a Bíblia é uma coleção de livros complexa
demais para que um fiel comum, sem condições de estudar grego,
latim, hebraico , aramaico, Filosofia e Teologia, pudesse interpretar
de forma mais correta que o corpo de toda a Tradição cristã de 2
mil anos. Seria muita arrogância. Foi nesse momento que eu, pelo
menos em consciência, deixei o Protestantismo.
Rome,
Sweet Home
[Nota
de Henrique Sebastião, editor de 'O Fiel Católico': o segundo
Motivo que será apresentado pelo autor para deixar o Protestantismo,
a seguir, é exatamente o mesmo Motivo final e definitivo de minha
própria conversão à Igreja de Cristo]
Deixar
o Protestantismo e todas as denominações protestantes é uma coisa.
No entanto, faltava um motivo claro e inegável para eu aceitar a
Igreja Católica.
Este motivo foi a Eucaristia.
Este motivo foi a Eucaristia.
A
Eucaristia é centro de toda a fé católica. À distância, [até
se] parece com a “Santa Ceia” dos protestantes, porém
infinitamente mais carregada de sentido e importância: o católico
acredita que na Eucaristia o pão e o vinho se transformam,
milagrosamente, no Corpo e no Sangue de Cristo. Assim, podemos dizer
com razão que o católico “absorve” o próprio Cristo, presente
de maneira real na celebração da Eucaristia. Loucura? Canibalismo?
Bom, os católicos não foram os primeiros a ouvirem essas acusações.
No
Evangelho de João, capítulo 6, o próprio Cristo profere estas
palavras:
“Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a Carne do Filho do homem, e não beberdes o seu Sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha Carne é verdadeiramente Comida, e o meu Sangue verdadeiramente é Bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por mim.”
(João 6,53-57)
Logo
em seguida, pela primeira vez em seu Ministério, Jesus perde
discípulos por causa de um ensinamento. Eles consideraram essas
palavras de Jesus “muito duras” (vs 60).
A
resposta de todo protestante é alegar que Jesus disse essas palavras
no sentido figurado, isto é, comer sua Carne e beber seu Sangue
seria um símbolo. [Ora, é claro como água límpida que esta versão
é simplesmente absurda! Se fosse apenas um símbolo, por que alguns
ou muitos discípulos se escandalizariam a ponto de deixar de seguir
Jesus? Eles estavam acostumados com as parábolas do Mestre. Por que
razão apenas quando Ele ensinou que seu Corpo e Sangue,
literalmente, se tornariam Pão e Vinho, e que os verdadeiros
seguidores deveriam se alimentar dEle, criou-se tanto celeuma?]
Outro
problema com essa versão é que ela faz de Jesus um insensível que
gostava de induzir seus seguidores ao erro e à blasfêmia. Explico.
Em todo o Evangelho (nos 04 livros, Mateus, Marcos, Lucas e João)
Jesus Cristo fez questão de explicar o significado de suas palavras
quando falava por meio de linguagem simbólica, ou em parábolas.
Veja no caso do “nascer de novo” a Nicodemos (João 3) e em todas
as parábolas (semeador, joio e trigo, videira, talentos, etc). Jesus
Cristo, sendo Deus, não induz pessoas ao erro, ao pecado gravíssimo
da blasfêmia. No entanto, justamente no caso da Eucaristia, Ele se
calou. O único cenário que justifica Jesus permitir que vários dos
seus discípulos O abandonassem é por ter dito exatamente o que Ele
quis dizer. Não há forma mais clara de dizer que deveríamos beber
Seu sangue e comer Sua carne.
Além
da evidência do próprio Cristo, há a evidência histórica: já os
primeiros Apóstolos, e seus primeiros sucessores, acreditavam que
Jesus estava realmente presente no Pão e no Vinho da Ceia. É por
isso que Paulo fez a famosa advertência em 1 Coríntios 11,29:
“Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua
própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.” É
pecado grave participar da Ceia sem discernir ali o corpo de Cristo.
Ora, se fosse apenas pão e vinho como símbolos do Corpo e Sangue do
Senhor, porque esta tão severa e específica advertência?
Mais:
ainda que os protestantes insistam em dizer que a Ceia é apenas um
memorial, a palavra em aramaico que Jesus utiliza para falar de Seu
corpo na Ceia é a mesma que Ele usa para falar de Seu corpo na cruz!
Tornar o corpo de Cristo na Ceia simbólico é tornar a Crucificação
simbólica(!).
Estas
e outras provas a favor da Presença Real de Cristo na Eucaristia
estão muito bem explicadas nos livros que eu grifei no meio deste
relato. Além deles, o melhor livro sobre esse assunto provavelmente
é "O Banquete do Cordeiro", de Scott Hahn.
Sabendo
que o Cristo, capaz de sofrer uma morte cheia de torturas por nós,
não seria capaz de perder discípulos por causa de uma confusão de
palavras, eu não tenho motivos para acreditar em outra coisa que não
seja o sentido literal das palavras de Jesus: que precisamos comer
Sua carne e beber Seu sangue para ter vida em nós. E conhecendo que
na Igreja Católica eu poderei participar do Banquete do próprio
Cristo, o Noivo, o Cordeiro, e que Ele, Deus encarnado, encontra-se
fisicamente presente na Santa Missa, somente o orgulho obstinado
poderia servir de motivo para não me render à Igreja Católica
Apostólica Romana.
O
que mais eu deveria fazer se soubesse que Jesus Cristo está
fisicamente presente em algum lugar?
“E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
(Mateus 28,20)
*
* *
Este
é o breve relato dos motivos da minha conversão ao Catolicismo. Não
tenho a intenção de torná-lo um tratado religioso ou histórico
sobre a fé católica e, por essa razão, não tratei de outros temas
de conflito com protestantes. Pra isso existem centenas de (bons)
livros, e eu posso indicar alguns ao leitor interessado e honesto, o
primeiro deles é o “manual” católico, – o CIC. – Por fim,
que estas palavras sejam acolhidas em terreno fértil, para que
produzam muitos frutos para a glória de Deus, nosso Pai.
Em
Cristo Jesus Nosso Senhor,
João
Marcos
Olímpia,
São Paulo, 28.07.2015
__________
Complemento
da bibliografia recomendada e indicações do autor
1. Catecismo
da Igreja Católica;
4. O
excelente (foi o primeiro livro sobre a fé católica que eu
li) "Catholicism
for Protestants",
por Shane Shaetzel. Neste livro o autor, católico bem no meio
do Bible
Belt (a
região mais protestante dos EUA), responde de maneira curta,
organizada e dentro da doutrina católica às dúvidas levantadas
pelos protestantes. É um excelente material para começar a remover
preconceitos sobre a Igreja.
5. "Coleção
História da Igreja",
por Daniel-Rops (10 volumes), além dos livros já citados no meio do
relato.
6.
Testemunhos de convertidos à Igreja Católica: eu
sempre achei que só pessoas desonestas permaneceriam ou se
converteriam à Igreja Católica. Estava redondamente enganado. E foi
só depois que eu saí do meio (protestante) é que percebi como a
grande maioria dos protestantes ainda pensa isso dos católicos.
Espero que estes livros e vídeos ajudem a desmistificar esta falsa
noção:
•
A
trilogia composta de "Surprised
by Truth: 11 Converts Give the Biblical and Historical Reasons for
Becoming Catholic", "Surprised
by Truth 2: 15 Men and Women Give the Biblical and Historical Reasons
For Becoming Catholic" e "Surprised
by Truth 3: 10 More Converts Explain the Biblical and Historical
Reasons for Becoming Catholic",
de autoria de Patrick Madrid;
•
"Ex-pastor
Paulo Leitão se converte ao Catolicismo", um testemunho
emocionante em vídeo (assista
aqui);
•
O
testemunho brilhante da conversão de Fábio Salgado à Igreja
Católica (repleto de dicas de livros, leia
aqui);
•
Todos
os membros da "Igreja Cristã Maranatha" (Detroit, EUA) se
convertem ao Catolicismo (leia
aqui).
Com
esses testemunhos espero que o leitor entenda que pessoas com motivos
sérios, fundamentados, e com uma prática de vida piedosa,
escolheram a Igreja Católica. Não é uma escolha por conveniência,
malícia ou ignorância. Muitas dessas pessoas perderam amigos,
familiares e todo seu círculo social de uma vida inteira quando
escolheram a fé católica. Todas elas eram cristãos estudiosos,
inteligentes, conhecedores da Bíblia e ativos na vida ministerial
das suas igrejas. Se meu exemplo não basta, espero então que o
exemplo desses irmãos em Cristo o ajudem a perceber que a fé
católica não é uma mentira ou tradição de homens.
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