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terça-feira, 26 de março de 2019

Ecumenismo com Apologética



Padre Flaviano Amatulli Valente* dizia que a Apologética e o Ecumenismo são as duas faces da mesma moeda. Seu argumento era simples e, podemos dizer, evidente: diálogo para quem aceita o diálogo, Apologética contra quem ataca, pois insistir exclusivamente no diálogo com quem apenas ataca e destrói resultou no desastroso avanço das seitas na América Latina, e quem está firme na fé católica e sabe defendê-la está preparado para o diálogo quando ele é possível e oportuno.

De fato, o diálogo sadio e o entendimento somente é possível com aqueles que se veem com respeito, que aceitam que o outro possa ter algo da verdade. Entretanto seitas não faltam que têm como ponto central de sua fé que a Igreja Católica Apostólica Romana é a “Prostituta do Apocalipse”, e que o Papa é a Besta ou o Anticristo, e que os católicos são agentes de Satanás, enquanto os fundadores ou líderes dessas seitas são tidos como profetas ou o próprio Cristo, e que teriam recebido instruções de um anjo ou do próprio Deus. Estas seitas são, naturalmente, fechadas a qualquer diálogo.

Ora, nesses casos, resta-nos apenas respeitar seus adeptos como queremos que nos respeitem, mas respondermos pronta e cabalmente às suas acusações, armados com a Verdade, calando-os como Nosso Mestre e Senhor calou aos Fariseus e Saduceus em seu tempo. Se a vida do cristão é lutar contra o pecado, a mentira, a exploração, enfim, as várias faces e golpes do Mal, não nos é permitido abandonar a Apologética, a defesa da nossa fé católica contra todas as injustas acusações. Se cruzarmos os braços, agimos como quem vê alguém ser dura e injustamente agredido e, tendo meios seguros para defender a vítima, nada faz.

Deus há de ter misericórdia daqueles que foram enganados e arrastados pelo erro, o qual não estava em suas forças combater. Mas e aqueles que, podendo, não defenderam a Verdade? E que dizer daqueles que conscientemente preferiram insistir no erro? Ou daqueles que, podendo esclarecer-se, mantiveram-se no erro por descaso ou interesse? E daqueles que, no erro, mas sinceramente convencidos de estarem na verdade, tornaram-se arrogantes perseguidores da Verdade? Não devemos zelar pela salvação desses irmãos? Seria então um gesto de amor enfrentá-los com zelo e competência, conforme o mandamento do Senhor de que devemos corrigir nosso irmão que erra, a quem podemos, com a Graça de Deus, vir a ganhar.

No mais, como o fogo se espalha enquanto há o que queimar, a não ser que a água o detenha, o erro somente faz espalhar-se entre os homens enquanto a verdade não o vem deter. Portanto, não podemos nos esquivar de combater o erro, com uma forte Apologética baseada em fatos e argumentos.

Valente lembra com propriedade que o Cristianismo perdeu a Ásia (especialmente a China e o Japão) devido à divisão dos cristãos, o que fez com que o Evangelho fosse levado dividido entre grupos que competiam e se combatiam. Como são proféticas as Palavras do Senhor, que orou para que todos os cristãos fossem um para que todo o mundo cresse!

O católico, portanto, seja clérigo ou leigo (este especialmente quando bem capacitado), não pode fugir à responsabilidade de defender sua fé quando a oportunidade o exige. Não podemos confundir respeito com omissão e covardia, assim como não podemos confundir combatividade com desrespeito, ofensa ou, Deus nos livre, qualquer tipo de violência, pois nossa luta é espiritual, e nossa arma é a palavra acertada que a Deus devemos pedir.

Cabe aqui lembrar a lição do Venerável Fulton J. Sheen: “Não há outro assunto em que o comum das pessoas é mais confuso do que o da tolerância e da intolerância… Tolerância é devida somente às pessoas, mas nunca a princípios. Intolerância aplica-se somente a princípios, mas nunca a pessoas… Devemos ser tolerantes com os que erram, porque a ignorância pode tê-los desencaminhado; mas devemos ser intolerantes com o erro, porque a verdade não é nossa criação, mas de Deus” (The Curse of Brodmindedness).

Saibamos pois respeitar, dialogar, e chegar à paz e ao entendimento com os que nos permitem, mas defender nossa fé, e, em última análise, o próprio Cristo, com o exercício da sã Apologética, quando não nos resta senão expor o Erro e confrontá-lo à Verdade.

* Padre Flaviano Amatulli Valente, 23-05-1938 a 01-06-2018, sacerdote italiano radicado no México que se dedicou à defesa da Igreja Católica contra as seitas protestantes na América Latina, escreveu vários livros sobre o tema, alguns traduzidos para o Português. Seus livros podem ser encontrados em https://edicionesapostoles.com, e versões e-book em https://play.google.com/store/books/author?id=Flaviano+Amatulli+Valente. Conferir o artigo “Apologética y Ecumenismo: Dos caras de la misma moneda” em https://es.aleteia.org/2014/08/04/apologetica-y-ecumenismo-dos-caras-de-la-misma-moneda.