“Pois
também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Mateus 16,18).
Após
Pedro ter declarado “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, e
Jesus tê-lo chamado “Bem-aventurado” e explicado “porque to
não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus”
(Mateus 16,16-17) Nosso Senhor faz essa declaração solene.
Ela
inicia dando a Simão, filho de Jonas (versículo 17), um novo nome,
Pedro. No diálogo original, em aramaico, a língua falada por Jesus
e seus discípulos, o nome é Cefas (Kefas). Esse é o nome que
aparece em João 1, 42: “Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás
chamado Cefas (que quer dizer Pedro)”. E também é diversas vezes
mencionado por São Paulo (1 Cor 1,12; 15,5; Gal 2,9 entre outros).
Kefas foi traduzido para o grego como Pétros, para o latim Petrus,
donde em português Pedro. Em aramaico, a língua originária do
diálogo, Kefas significa pedra. Assim temos, “tu és Kefas
(pedra), e sobre esta kefas (pedra) edificarei a minha igreja”.
O
sentido é óbvio: Nosso Senhor Jesus Cristo funda a sua comunidade
de fé (Igreja), que é uma só (“a minha igreja”), e o faz a
partir de uma pessoa, cuja missão é tal que seu nome é alterado em
função dela, antes era Simão, agora é Kefas (Cefas, Pedro,
pedra).
Essa
declaração de Nosso Senhor é tão clara e direta, ao instituir uma
única Igreja, sobre uma única liderança, que a única maneira de
permanecer protestante tendo a Bíblia como livro sagrado é criando
todo um contorcionismo interpretativo para negar o que é óbvio.
Assim,
dizem que igreja na verdade é o conjunto de todos os que crêem que
Jesus é o Cristo, portanto algo difuso e não identificável, sem
corpo ou autoridade, e que Pedro se é pedra não o é no sentido da
rocha sobre a qual Cristo funda sua igreja, porque o grego faz
diferença entre pedra e rocha, e Pedro (Pétros) significaria pedra,
enquanto Jesus é a rocha (petra), e que na verdade Pedro nem mesmo é
uma pedrinha, porque a pedra é a fé dele, em razão da profissão
de fé no Cristo no versículo anterior...
É
no mínimo interessante que os protestantes que costumam reivindicar
uma interpretação o mais literal possível de toda a Bíblia, e
fazem holofotes sobre alguns versículos que pensam (erroneamente)
serem contrários à Igreja Católica, aqui, entretanto, fazem o
inverso, tentam, diante de uma declaração solene e direta de Nosso
Senhor, criar uma interpretação sofisticada para não aceitar o
sentido claro, e até mesmo esvaziar de significado o texto.
Que
Cristo é a rocha, a pedra angular, é claríssimo em todo o Novo
Testamento. Entretanto, não faria sentido nenhum Nosso Senhor mudar
o nome de Simão para Pedro (pedra) e, na mesma frase, referir-se não
a ele (Pedro) pela palavra pedra, mas a si mesmo (Jesus). Jesus é a
rocha, sim, a pedra angular, sim, portanto, o que faz ao chamar
Simão, dando-lhe um novo nome (Cefas, pedra) é justamente estender
a Pedro algo do próprio Cristo, em outros termos, é dar-lhe o poder
de falar por Cristo após sua partida, torná-lo seu vigário. O fato
do Cristo ser a rocha e a pedra angular, portanto, só aumenta a
profundidade e o significado do “título” que o Cristo confere a
Simão, filho de Jonas, ao nomeá-lo Pedro (Cefas, pedra).
A
função de Pedro, assim, é a de Eliaquim: “E será naquele dia
que chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias; E vesti-lo-ei
da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto, e entregarei nas suas
mãos o teu domínio, e será como pai para os moradores de
Jerusalém, e para a casa de Judá. E porei a chave da casa de Davi
sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e
ninguém abrirá” (Isaías 22,20-22). O paralelo com o versículo
seguinte de Mateus 16 (“E eu te darei as chaves do reino dos céus;
e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus”) é evidente. Pedro,
portanto, é o primeiro-ministro do Reino de Nosso Senhor Jesus
Cristo, como Eliaquim o foi do reino de Davi (sob o reinado de
Ezequias), e, como primeiro-ministro é ele quem administra em nome
do Senhor.
Ademais,
edifícios são construídos a partir da pedra angular, mas não
apenas com ela. Cristo, assim, a rocha fundamental, é a cabeça da
Igreja (Ef 5,23) que é seu corpo (Cl 1,24). Pedro, portanto, sobre o
qual Cristo funda a sua Igreja, é a pedra seguinte que liga a pedra
angular a todo o edifício da Igreja (Ef 2,20-21).
Quanto
à distinção entre os termos gregos para pedra e rocha no texto do
evangelho, não é relevante pelo fato de que no aramaico, língua do
diálogo, a palavra é a mesma (Kefas). O problema então seria de
tradução, e como “petra” que afirmam significar rocha, é
feminino, “Pétros”, que seria pedra, é masculino, explica-se o
uso desses termos ligeiramente diferentes nessa frase em grego.
Entretanto, esse é o tipo de sutileza que depende do contexto em
qualquer língua. Com efeito, o famoso protestante James Strong,
embora aponte essa diferença, afirma que “petra é o feminino de
Petros” (Strong's Exhaustive Concordance, 4073). E há quem afirme
que no grego usado na redação dos evangelhos a distinção entre os
termos empregados era ignorada – e isso parece muito plausível, já
que era uma versão simplificada do grego, chamado Koiné.
Quanto
a afirmar que a pedra é a fé de Pedro, Simão é que foi nomeado
Kefas (pedra), então ele poderia até ser a pedra em razão da sua
fé, mas o fato é que ele, a pessoa, é que recebeu um novo nome,
cheio de significado. Ademais, Nosso Senhor afirma que a profissão
de fé de Simão (“tu és o Cristo”) veio do alto, ou seja, são
palavras que não vieram da fé de Pedro, mas da iluminação do
Espírito Santo.
E
quanto a Igreja ser o conjunto difuso dos fieis, sem visibilidade,
hierarquia, autoridade, organização, simplesmente não é
compatível com a ideia de ser o corpo de Cristo (Cl 1,24), pois um
corpo é visível, identificável, individualizável, possui
organização e capacidade de ação. Também é incompatível com a
autoridade que recebe, como em Mateus 18, 17. É interessante que
nessa passagem Nosso Senhor primeiro exorta, para resolver um disputa
entre irmãos, a buscar duas ou três testemunhas, e caso isso não
seja suficiente, aí o caso deve ser levado à Igreja. Portanto,
supõe uma Igreja visível, organizada, capaz de decidir com
autoridade, até porque, buscada posteriormente ao testemunho de dois
ou três.
Por
fim, cabe lembrar o que o mesmo São Pedro disse: “tome outro o seu
bispado” (Atos 1,20). Assim, a cabeça visível da Igreja vem sendo
mantida em sucessão desde os tempos dos primeiros cristãos, como
atesta Irineu de Lião:
“Mas
visto que seria coisa bastante longa elencar numa obra como esta, as
sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais
antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em
Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo (...) Os
bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a igreja
transmitiram o governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na
carta a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em
terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente
(...) A este Clemente sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em
seguida, sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele,
Telésforo, que fechou a vida com gloriosíssimo martírio; em
seguida Higino; depois Pio; depois dele, Aniceto. A Aniceto sucedeu
Sotero e, presentemente, Eleutério, em décimo segundo lugar na
sucessão apostólica, detém o pontificado”(Contra as heresias –
Livro III, 3, 2-3).
A
Igreja Católica Apostólica Romana portanto, era, é, e continuará
sendo a Igreja do Cristo, filho do Deus vivo, fundada por Nosso
Senhor sobre Pedro, que vem sendo desde o início sucedido em uma
linha ininterrupta, como cabeça visível da Igreja, Corpo de Cristo
cuja cabeça suprema, pedra angular, é o próprio Cristo.
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