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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A Igreja Católica na Bíblia – Parte 1: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18)


Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,18).

Após Pedro ter declarado “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, e Jesus tê-lo chamado “Bem-aventurado” e explicado “porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus” (Mateus 16,16-17) Nosso Senhor faz essa declaração solene.

Ela inicia dando a Simão, filho de Jonas (versículo 17), um novo nome, Pedro. No diálogo original, em aramaico, a língua falada por Jesus e seus discípulos, o nome é Cefas (Kefas). Esse é o nome que aparece em João 1, 42: “Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)”. E também é diversas vezes mencionado por São Paulo (1 Cor 1,12; 15,5; Gal 2,9 entre outros). Kefas foi traduzido para o grego como Pétros, para o latim Petrus, donde em português Pedro. Em aramaico, a língua originária do diálogo, Kefas significa pedra. Assim temos, “tu és Kefas (pedra), e sobre esta kefas (pedra) edificarei a minha igreja”.

O sentido é óbvio: Nosso Senhor Jesus Cristo funda a sua comunidade de fé (Igreja), que é uma só (“a minha igreja”), e o faz a partir de uma pessoa, cuja missão é tal que seu nome é alterado em função dela, antes era Simão, agora é Kefas (Cefas, Pedro, pedra).

Essa declaração de Nosso Senhor é tão clara e direta, ao instituir uma única Igreja, sobre uma única liderança, que a única maneira de permanecer protestante tendo a Bíblia como livro sagrado é criando todo um contorcionismo interpretativo para negar o que é óbvio.

Assim, dizem que igreja na verdade é o conjunto de todos os que crêem que Jesus é o Cristo, portanto algo difuso e não identificável, sem corpo ou autoridade, e que Pedro se é pedra não o é no sentido da rocha sobre a qual Cristo funda sua igreja, porque o grego faz diferença entre pedra e rocha, e Pedro (Pétros) significaria pedra, enquanto Jesus é a rocha (petra), e que na verdade Pedro nem mesmo é uma pedrinha, porque a pedra é a fé dele, em razão da profissão de fé no Cristo no versículo anterior...

É no mínimo interessante que os protestantes que costumam reivindicar uma interpretação o mais literal possível de toda a Bíblia, e fazem holofotes sobre alguns versículos que pensam (erroneamente) serem contrários à Igreja Católica, aqui, entretanto, fazem o inverso, tentam, diante de uma declaração solene e direta de Nosso Senhor, criar uma interpretação sofisticada para não aceitar o sentido claro, e até mesmo esvaziar de significado o texto.

Que Cristo é a rocha, a pedra angular, é claríssimo em todo o Novo Testamento. Entretanto, não faria sentido nenhum Nosso Senhor mudar o nome de Simão para Pedro (pedra) e, na mesma frase, referir-se não a ele (Pedro) pela palavra pedra, mas a si mesmo (Jesus). Jesus é a rocha, sim, a pedra angular, sim, portanto, o que faz ao chamar Simão, dando-lhe um novo nome (Cefas, pedra) é justamente estender a Pedro algo do próprio Cristo, em outros termos, é dar-lhe o poder de falar por Cristo após sua partida, torná-lo seu vigário. O fato do Cristo ser a rocha e a pedra angular, portanto, só aumenta a profundidade e o significado do “título” que o Cristo confere a Simão, filho de Jonas, ao nomeá-lo Pedro (Cefas, pedra).

A função de Pedro, assim, é a de Eliaquim: “E será naquele dia que chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias; E vesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto, e entregarei nas suas mãos o teu domínio, e será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá. E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá” (Isaías 22,20-22). O paralelo com o versículo seguinte de Mateus 16 (“E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”) é evidente. Pedro, portanto, é o primeiro-ministro do Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, como Eliaquim o foi do reino de Davi (sob o reinado de Ezequias), e, como primeiro-ministro é ele quem administra em nome do Senhor.

Ademais, edifícios são construídos a partir da pedra angular, mas não apenas com ela. Cristo, assim, a rocha fundamental, é a cabeça da Igreja (Ef 5,23) que é seu corpo (Cl 1,24). Pedro, portanto, sobre o qual Cristo funda a sua Igreja, é a pedra seguinte que liga a pedra angular a todo o edifício da Igreja (Ef 2,20-21).

Quanto à distinção entre os termos gregos para pedra e rocha no texto do evangelho, não é relevante pelo fato de que no aramaico, língua do diálogo, a palavra é a mesma (Kefas). O problema então seria de tradução, e como “petra” que afirmam significar rocha, é feminino, “Pétros”, que seria pedra, é masculino, explica-se o uso desses termos ligeiramente diferentes nessa frase em grego. Entretanto, esse é o tipo de sutileza que depende do contexto em qualquer língua. Com efeito, o famoso protestante James Strong, embora aponte essa diferença, afirma que “petra é o feminino de Petros” (Strong's Exhaustive Concordance, 4073). E há quem afirme que no grego usado na redação dos evangelhos a distinção entre os termos empregados era ignorada – e isso parece muito plausível, já que era uma versão simplificada do grego, chamado Koiné.

Quanto a afirmar que a pedra é a fé de Pedro, Simão é que foi nomeado Kefas (pedra), então ele poderia até ser a pedra em razão da sua fé, mas o fato é que ele, a pessoa, é que recebeu um novo nome, cheio de significado. Ademais, Nosso Senhor afirma que a profissão de fé de Simão (“tu és o Cristo”) veio do alto, ou seja, são palavras que não vieram da fé de Pedro, mas da iluminação do Espírito Santo.

E quanto a Igreja ser o conjunto difuso dos fieis, sem visibilidade, hierarquia, autoridade, organização, simplesmente não é compatível com a ideia de ser o corpo de Cristo (Cl 1,24), pois um corpo é visível, identificável, individualizável, possui organização e capacidade de ação. Também é incompatível com a autoridade que recebe, como em Mateus 18, 17. É interessante que nessa passagem Nosso Senhor primeiro exorta, para resolver um disputa entre irmãos, a buscar duas ou três testemunhas, e caso isso não seja suficiente, aí o caso deve ser levado à Igreja. Portanto, supõe uma Igreja visível, organizada, capaz de decidir com autoridade, até porque, buscada posteriormente ao testemunho de dois ou três.

Por fim, cabe lembrar o que o mesmo São Pedro disse: “tome outro o seu bispado” (Atos 1,20). Assim, a cabeça visível da Igreja vem sendo mantida em sucessão desde os tempos dos primeiros cristãos, como atesta Irineu de Lião:

Mas visto que seria coisa bastante longa elencar numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo (...) Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente (...) A este Clemente sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre; em seguida, sexto depois dos apóstolos foi Sisto; depois dele, Telésforo, que fechou a vida com gloriosíssimo martírio; em seguida Higino; depois Pio; depois dele, Aniceto. A Aniceto sucedeu Sotero e, presentemente, Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica, detém o pontificado”(Contra as heresias – Livro III, 3, 2-3).


A Igreja Católica Apostólica Romana portanto, era, é, e continuará sendo a Igreja do Cristo, filho do Deus vivo, fundada por Nosso Senhor sobre Pedro, que vem sendo desde o início sucedido em uma linha ininterrupta, como cabeça visível da Igreja, Corpo de Cristo cuja cabeça suprema, pedra angular, é o próprio Cristo.

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