Às vezes nos deparamos com
críticas, vindas de adeptos de outras religiões, contra os traços
de cultura católica do nosso povo. Insurgem-se contra feriados
católicos, festas que honram figuras típicas do Catolicismo, como a
Virgem Maria, questionam reformas de igrejas antigas, a aplicação
de provas públicas aos sábados (com o que não concordam os
adventistas), etc. Essas críticas simplesmente desconsideram que,
embora o Estado seja laico, o povo brasileiro possui uma história e
uma cultura católica e impregnada de Catolicismo, a qual merece
consideração e respeito, e a qual ninguém pode pretender
simplesmente desconsiderar e apagar.
Um exemplo imaginário pode
nos ajudar a entender essa questão. Suponhamos que exista uma
república onde dez jovens, daquele tipo farrista, beberrão, e
namorador, moram faz alguns anos. Esse grupo já desenvolveu uma
cultura própria, e regras próprias, um verdadeiro estilo de vida.
Eles fazem churrascos regados a cerveja quase todos os dias, suas
namoradas dormem na república e dividem com eles a cama
frequentemente, o rock and roll em alto e bom som é frequentemente
ouvido até às duas da manhã. Algumas das suas regras, e são
poucas: todas as despesas são divididas igualmente, sem exceção, e
as deliberações são tomadas coletivamente pelo voto da maioria.
Agora suponhamos que um jovem
puritano, abstêmio e vegano, precisando de um local para morar, peça
ser admitido na república. Os jovens, vendo a vantagem de mais um
morador (mais um para dividir as despesas, afinal), o admitem. Ora, é
possível, e até provável, que os fanfarrões o respeitem, se ele
não quer participar dos churrascos, ou se quer assar legumes ali ao
lado das carnes, se não quer beber, se vai se deitar cedo, tudo bem.
Justo, razoável e provável que os fanfarrões não o vão
incomodar, não vão interferir em seu estilo de vida.
Mas, e se o puritano recém
chegado resolver impor seu estilo de vida? Ele vai querer acabar com
os churrascos, com a música alta até a madrugada, com a cerveja,
com as visitas das namoradas... Mas ele teria apenas um voto, contra
dez. Seria natural, inevitável, e talvez justo, que ele fosse voto
vencido, e que, se insistisse em seu intento, tornasse a convivência
impossível.
Tolerância é, por definição,
a aceitação da pessoa que professa ou segue uma ideia ou crença
contrária, ou que se tem por errônea ou inadequada. Os jovens
fanfarrões, ao permitirem que o puritano vegano more entre eles e
mantenha-se seguindo seu próprio estilo de vida, estão sendo
tolerantes, mesmo sendo maioria. Já o puritano recém-chegado, se
exigir deles que mudem seu estilo de vida, estaria sendo intolerante,
mesmo sendo minoria. Ele pode condenar veementemente o estilo de vida
dos fanfarrões e até explicar-lhes que acha errado o que eles
fazem, mas não pode tentar forçá-los a mudar. E quanto às regras
do grupo, uma vez dentro dele, não se pode dizer serem injustas se
são a todos aplicadas, quanto mais que elas não impedem que o
diferente siga o seu modo de viver.
Pois bem, o Cristianismo,
embora ainda mais antigo que isso, é a religião do Ocidente faz
cerca de 1700 anos. Esse Cristianismo era unicamente o Catolicismo
até cerca de 500 anos, portanto, por cerca de 1200 anos, sendo que
Portugal manteve-se católico até recentemente. Até cerca de 100
anos atrás, o Catolicismo era a religião oficial do Brasil.
Naturalmente, o Brasil é um país católico. Sua história está
ligada ao Catolicismo, com suas igrejas, figuras, símbolos, moral,
arte etc. Sua cultura está impregnada de Catolicismo. A maioria da
população ainda é católica. Mesmo grande parte dos não católicos
ainda têm influências católicas e ligações com a cultura
católica, mesmo que adaptada a outras religiões e crenças.
Assim, quando se restaura uma
igreja católica centenária, não se está investindo no patrimônio
de uma religião, mas preservando o patrimônio histórico, artístico
e cultural do nosso povo. Quando é instituído um feriado em dia de
festa para os católicos, está sendo respeitada a vontade da maioria
do nosso povo e sua cultura; quem quiser trabalhar no dia por ser de
outra religião, não está proibido, mas não pode obrigar os
outros. Quando é honrada publicamente uma figura como a Virgem
Maria, é toda uma cultura que está sendo respeitada e considerada,
numa expressão legítima do simbolismo que, mais que religioso, é
popular. Quem não quiser que não participe. Quando provas ou
atividades públicas são feitas no sábado, simplesmente está sendo
seguida a cultura arraigada do nosso povo, que a minoria adepta de
uma religião recente e exótica não pode pretender submeter a seus
caprichos, o que, longe de significar tolerância, seria a suprema
intolerância de uma minoria ditatorial.
Portanto, não procedem as
críticas daqueles que não concordam com os dias santos, os
feriados, o natal, e outros atos públicos que não se adéquam às
suas religiões. Eles são livres para seguirem a religião ou crença
que quiserem; eles têm sua liberdade religiosa respeitada, pois
ninguém os obriga a serem católicos. Mas, em Terras de Santa Cruz,
precisam respeitar a herança cultural, católica, do nosso povo.
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