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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

SÃO TOMÁS DE AQUINO E A ADORAÇÃO DA IMAGEM DE CRISTO



Na busca incessante de acusações contra a Igreja Católica Apostólica Romana, e buscando sustentar sua tese já desgastada de que a Igreja ensina os católicos a adorarem imagens, tem circulado um panfleto virtual (“meme”) com uma imagem de São Tomás de Aquino e um trecho da Suma Teológica que estaria dizendo ser devido adorar a imagem de Cristo.

Os trechos em questão foram extraídos da Parte Terceira, Questão 25, Art. 3, na tradução de Alexandre Correia, disponibilizada pela Editora Permanência, sendo os seguintes:

Art. 3 — Se a imagem de Cristo deve ser adorada com adoração de latria.
O terceiro discute-se assim. — Parece que à imagem de Cristo não deve ser adorada com adoração de latria.”
Mas, em contrário, Damasceno cita Basílio, que diz: A honra prestada à imagem é prestada ao ser a que ela pertence, isto é, ao modelo. Ora, o modelo mesmo isto é, Cristo, deve ser adorado com adoração de latria. Logo, também a sua imagem.”
4. Demais. — No culto divino não se deve praticar senão o instituído por Deus. Por isso o Apóstolo, ao transmitir a doutrina do sacrifício da Igreja, diz; Eu recebi do Senhor o que também vos ensinei a vós. Ora, a Escritura nada nos diz sobre a adoração das imagens. Logo, a imagem de Cristo não deve ser adorada com adoração de latria.”
RESPOSTA À QUARTA. — Os Apóstolos, por uma inspiração familiar do Espírito Santo, ensinaram certas práticas a serem observadas pelas Igrejas, que não deixaram por escrito, mas na observância da Igreja, através das gerações dos fieis. Por isso o Apóstolo mesmo diz: Estai firmes e conservai as tradições que aprendestes, ou de palavra, isto é, proferida oralmente, ou de carta nossa, isto é, por um escrito transmitido. E entre essas tradições está a da adoração das imagens de Cristo. Por isso São Lucas pintou a imagem de Cristo, que, segundo se conta, está em Roma.”

O problema, como de costume, é o que o panfleto não mostra, e esse é o objetivo desse pequeno artigo, esclarecer o que São Tomás de Aquino realmente ensina mostrando mais da Suma Teológica.

Antes, porém, cabe esclarecer que a Igreja Católica Apostólica Romana possui doutrina oficial, que pode ser consultada no Catecismo aprovado pela Igreja e disponibilizado em diversos idiomas no site do Vaticano. E o Catecismo contém o seguinte no parágrafo 2132: “A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve”. Não resta dúvida, portanto, que não é crido ou ensinado pela Igreja que se deva adorar imagens, e qualquer um que queira realmente saber o teor da doutrina católica tem aí a sua resposta.

Veremos, contudo, que disto não destoa São Tomás de Aquino. De fato, encontramos na Suma Teológica:

Sendo a latria devida só a Deus, não o é à criatura; não o é, no sentido em que a venerássemos em si mesma. Mas, embora as criaturas insensíveis não sejam em si mesmas dignas de veneração, a criatura racional o é. Por isso, não devemos o culto de latria a nenhuma criatura racional como tal. Sendo, porém, a bem-aventurada Virgem uma criatura racional, em si mesma, não lhe devemos a adoração de latria, mas só a veneração de dulia. De maneira mais eminente, contudo, que às outras criaturas, por ser Mãe de Deus. E por isso dizemos que lhe é devida, não qualquer dulia, mas a hiperdulia.” (ST, P. III, Q. 25, Art. 5).

Portanto, o Doutor Angélico ensina claramente que adoração somente é devida a Deus, a veneração a pessoas, sendo que nem mesmo à Virgem Maria é devida adoração, e quanto às coisas, como as imagens em si mesmas, nem mesmo veneração é devida.

Assim, não se pode dizer que São Tomás de Aquino defenda a adoração de imagens, pois claramente rejeita mesmo a veneração senão a pessoas. De fato, ele explica que “Não prestamos o culto de religião às imagens consideradas em si mesmas, como coisas: mas, enquanto conducentes ao Deus incarnado. Ora, o culto pela imagem, como tal, não finda nela, mas, tende para o ser que ela representa. Logo, prestar o culto de religião às imagens de Cristo não diversifica a ideia de latria nem a virtude de religião” (ST, P. II, S. II, Q. 81, Art. 3).

Disto já se tem o suficiente para ver que a acusação de que este grande Santo e Filósofo ensine a adorar imagens é infundada. Resta mostrar o que São Tomás de Aquino efetivamente ensina no texto do qual foram extraídos os trechos colacionados no panfleto.

Seguindo o método escolástico, São Tomás de Aquino propõe uma questão: “Se a imagem de Cristo deve ser adorada com adoração de latria”, e inicia a resposta com a antítese: “Parece que à imagem de Cristo não deve ser adorada com adoração de latria”, e prossegue apresentando os argumentos para tal antítese: primeiro que a Escritura diz para não fazer imagens, segundo que a adoração de imagens é uma prática pagã, terceiro que a adoração a Cristo decorre de sua divindade pois não se deve adorar o homem por ser imagem de Deus, e quarto que a Escritura não ensina a adoração de qualquer imagem. Até parecem as objeções dos protestantes de hoje.

Depois traz manifestação no sentido contrário, que representa a Tradição da Igreja: “Mas, em contrário, Damasceno cita Basílio, que diz: A honra prestada à imagem é prestada ao ser a que ela pertence, isto é, ao modelo. Ora, o modelo mesmo isto é, Cristo, deve ser adorado com adoração de latria. Logo, também a sua imagem”.

Esse é um dos trechos transcritos no panfleto. Na verdade é uma citação de São João Damasceno, ao defender o uso das imagens contra os iconoclastas no século VII. E embora mencione a adoração da imagem (de Cristo), havia explicado que esta se dá na verdade Àquele que a inspira (o modelo), por este ser digno de adoração. Damasceno estaria defendendo não a adoração da imagem propriamente dita, o objeto seja pintura ou escultura, mas a adoração por meio dele do Deus feito homem, o Cristo. É exatamente com esse sentido que São Tomás prossegue defendendo essa afirmação.

De fato, a resposta, com a tese defendida por São Tomás, vem a seguir:

Como diz o Filósofo, a nossa alma se aplica com duplo movimento, a uma imagem, à em si mesma, como uma determinada coisa e enquanto imagem de alguém. E entre esses dois movimentos há a diferença seguinte: o primeiro movimento, pelo qual nos aplicamos a uma imagem, enquanto uma determinada coisa, difere daquele pelo qual nos aplicamos ao ser a que ela pertence; ao passo que o segundo movimento, cujo objeto é a imagem como tal, é idêntico ao que tem por objeto o ser ao qual ela pertence.”

Assim, citando o Filósofo, isto é, Aristóteles, em seu pequeno tratado Da Memória e da Recordação, São Tomás entende que o ser humano pode se dirigir a uma imagem visando a própria imagem, isto é, o objeto em si mesmo; mas que, ao contrário, pode se dirigir à imagem visando não ao objeto, mas sim àquele que a imagem nos traz à mente.

Hoje, podemos pensar na fotografia de uma pessoa querida, uma mãe, um filho. Ninguém pega uma fotografia destas com desdém, e é comum que se as aperte contra o peito, ou que se beije a imagem da pessoa na fotografia, num sinal de amor e saudade. É óbvio que ninguém em sã consciência ama o papel impresso e a tinta. O amor expresso nesse movimento à fotografia na verdade é direcionado à pessoa ali fotografada. É esse um movimento do segundo tipo mencionado por São Tomás de Aquino, e aqui ele se encontra plenamente coerente com seu ensinamento em parte anterior de sua obra: “o culto pela imagem, como tal, não finda nela, mas, tende para o ser que ela representa”.

Prossegue então em sua resposta: “Donde, pois, devemos concluir, que à imagem de Cristo, enquanto uma determinada coisa, por exemplo, madeira esculpida ou pintada, nenhuma reverência é prestada, por que reverência só é devida à natureza racional”. Aqui São Tomás fala daquele movimento do primeiro tipo, dirigido à imagem enquanto objeto em si (madeira esculpida ou pintada) dizendo com clareza e precisão que nenhuma reverência lhe deve ser prestada.

Prossegue ele: “E daí resulta que lhe prestamos reverência só enquanto imagem”. Ou seja, se enquanto objeto em si mesmo a imagem nada significa, qualquer gesto de veneração ou adoração que, de modo exterior, aparente e material a ela seja dirigido, somente pode ter por destinatário aquele do qual ela é imagem, representação, ou seja, àquele ao qual ela nos remete. Novamente o Doutor Angélico está apenas repisando aquilo que já disse, como visto acima.

Donde se segue que a mesma reverência é prestada à imagem de Cristo e ao próprio Cristo”. Isto é, se o movimento se dirige a Cristo mesmo, não ficando na mera pintura ou escultura, então esse movimento deve ser o devido ao próprio Cristo. A consequência evidente é esta: se o Cristo é adorado, quem se dirige à imagem dEle, enquanto imagem meramente que aponta para o Cristo mesmo, dirige-se ao próprio Cristo, e, portanto, deve estar realizando um gesto de adoração, não da imagem propriamente mas do Cristo. E nesse sentido conclui São Tomás de Aquino: “Sendo, portanto, Cristo adorado com adoração de latria, consequentemente a sua imagem deve ser adorada também com adoração de latria”.

Resumindo: se a imagem em si mesma nada significa, ela somente recebe qualquer reverência na medida em que se reverencia aquele que ela nos aponta. Então, nesse movimento, que não fica na imagem, mas a ultrapassa e alcança aquele a quem ela nos remete, venera-se quem é digno de veneração, e adora-se quem é digno de adoração, ou seja, o Cristo. O movimento, assim, embora dirija-se (externa, material e aparentemente) à imagem, dirige-se na realidade ao Cristo, e, por isso, apenas nesse sentido, cabe falar na adoração à imagem de Cristo, que, repisa-se, não é adoração à imagem propriamente enquanto objeto, mas Àquele a quem ela remete e ao qual verdadeiramente se dirige nossa mente, palavras e gestos, pois “o culto pela imagem, como tal, não finda nela, mas, tende para o ser que ela representa”.

Voltando à aplicação a uma fotografia de um ente querido, o beijo na fotografia impressa é um ato de expressão de amor que se dirige, de modo exterior, material e aparente, a um papel impresso com tinta, mas de modo algum termina nele, pois não é o papel impresso que é amado. Portanto, é um ato que expressa amor à pessoa fotografada. Do mesmo modo, a oração, o louvor, as lágrimas, o beijar os pés ou as feridas, da imagem do Cristo, crucificado, glorioso, menino, de modo algum expressa adoração ao gesso, tela, madeira, aço, ou tinta, mas tão somente Àquele Deus que se fez homem e veio morar no meio de nós, dando sua vida pela salvação de muitos.

É isso que “aqueles que não entendem difamam” (Jd 1,10). No temor de cometerem algo contrário ao que agrada a Deus, a mentalidade protestante ressuscitou a velha heresia iconoclasta, que, ao invés de compreender a função da arte sacra para a fé e a piedade, rejeita-a completamente, e vê idolatria em gestos legítimos de amor a Deus, idênticos aos mais naturais gestos de amor pelas pessoas queridas, apenas porque não se encaixam em tal mentalidade.

Prossegue São Tomás de Aquino respondendo às objeções, iniciando pela primeira, da proibição bíblica de se fazer imagens:

O referido preceito não proíbe fazer qualquer escultura ou imagem, mas, fazê-la para adorar, e por isso acrescenta: Não as adorarás nem lhes darás culto. Mas, como se disse, o movimento para a imagem é o mesmo que o para a realidade; por isso, é proibida a adoração da imagem do mesmo modo pelo qual o é a adoração do ser a que ela pertence. E por isso se entende a proibição, do lugar aduzido, de adorar as imagens, que os gentios faziam para venerar os seus deuses, isto é, os demônios. Donde o acrescentar a Escritura: Não terás deuses estrangeiros diante de mim. Pois, do verdadeiro Deus, que é incorpóreo, não se pode fazer nenhuma imagem corpórea; porque, como diz Damasceno, é suma insipiência e impiedade dar figura ao divino. Mas, como no Novo Testamento Deus se fez homem, pode ser adorado na sua imagem corpórea”.

Essa é a explicação completa do preceito bíblico, e é isso que a Igreja ensina há milênios. Não se adora os ídolos dos deuses pagãos, mas o Deus único e verdadeiro, que se fez homem, e portanto assumiu uma forma material e humana, e desde sempre os cristãos utilizam símbolos e representações que a ele remetem, desde a Cruz, na qual Ele nos salvou, o peixe, cuja palavra em grego contém as iniciais do louvor “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”, as pinturas e esculturas, das quais as mais antigas conhecidas remontam ao início do século III (mais antigas que a Bíblia enquanto biblioteca sagrada, isto é, que o cânon bíblico) e, principalmente, ao século IV, quando o fim das perseguições permitiu o florescimento da arte sacra.

Sobre a segunda objeção (não imitar as práticas idólatras dos pagãos), São Tomás explica que : “a adoração das imagens deve ser contada entre as obras infrutuosas, por duas razões. Primeiro, porque certos gentios adoravam essas imagens como se fossem as realidades, crendo habitar nelas a divindade, por causa das respostas que os demônios por meio delas davam, e outros efeitos insólitos semelhantes. Segundo, por causa das realidades que elas manifestavam; pois, faziam essas imagens, de certas criaturas, veneradas nelas pela veneração de latria. Ao passo que nós adoramos por adoração de latria a imagem por causa da realidade que ela representa, como dissemos”.

Ou seja, as práticas pagãs, quer de adorar um objeto em si, quer de adorar por meio dele um falso deus ou demônio, são proscritas. Adorar Cristo, por meio da sua imagem (já que não se adora a imagem em si), é justo e devido.

Respondendo à terceira objeção, de que não se deve adorar o homem por ser imagem de Deus, escreve: “À criatura racional é devida reverência, em si mesma. Por onde, se à criatura racional, que é a imagem de Deus, fosse tributada a adoração de latria, poderia haver ocasião de erro; isto é, poderia o afeto dos adoradores limitar-se ao homem, como um determinado ser, sem levar-se até Deus, de que ele é a imagem. O que não pode dar-se com a imagem esculpida ou pintada na matéria insensível.”

Ou seja, o homem tendo personalidade própria, sendo pessoa, ser racional, não pode ser adorado enquanto imagem de Deus, exatamente porque, sendo pessoa, essa adoração atingiria ao homem mesmo. Mas a imagem, por ser mero objeto, sem racionalidade ou personalidade, é perfeitamente instrumentalizada para a adoração Àquele a quem remete e é de fato digno de toda a adoração e louvor, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Valendo-nos novamente do exemplo da fotografia, enquanto ninguém pensaria que o beijo na foto impressa é um ato de amor ao papel e à tinta, um beijo no filho de uma pessoa que se ama (que não deixa de ser imagem e semelhança de seus pais) poderia aparentar ser um ato de amor ao filho, e não a um de seus genitores. É fácil imaginar situações em que isso poderia causar constrangimentos. Portanto, se a intenção é essa, é melhor beijar a foto, que não tendo personalidade não seria objeto de amor em si mesma.

Enfim chegamos à resposta à quarta objeção, de que a Bíblia não ensina a adorar a imagem do Cristo: “Os Apóstolos, por uma inspiração familiar do Espírito Santo, ensinaram certas práticas a serem observadas pelas Igrejas, que não deixaram por escrito, mas na observância da Igreja, através das gerações dos fiéis. Por isso o Apóstolo mesmo diz: Estai firmes e conservai as tradições que aprendestes, ou de palavra, isto é, proferida oralmente, ou de carta nossa, isto é, por um escrito transmitido. E entre essas tradições está a da adoração das imagens de Cristo. Por isso São Lucas pintou a imagem de Cristo, que, segundo se conta, está em Roma.”

Esse é outro trecho transcrito no panfleto acusatório protestante. A questão é que, após reunir outros trechos da magistral obra de São Tomás de Aquino, a Suma Teológica, e seguir os passos de seu raciocínio na questão proposta, sabe-se perfeitamente o que o grande Doutor Angélico quer dizer com adoração da imagem de Cristo. Com efeito, sabe-se que ele se mantém coerente com o princípio de que “o culto pela imagem, como tal, não finda nela, mas, tende para o ser que ela representa”. Assim, quando fala de adorar uma imagem de Cristo, não pretende dizer que se deva adorar o objeto de gesso ou tinta, mas o Cristo mesmo que é ali representado, é dizer, é antes adorar a Cristo por meio de sua imagem, ou ainda, num movimento que se dirige à imagem mas a ultrapassa para visar e atingir aquele ao qual a imagem nos remete.

Daí a coerência de sua resposta à quarta objeção, esclarecendo que, não estando nosso conhecimento da fé limitado à Bíblia, mas igualmente à Tradição, reputamos perfeitamente lícitas práticas não prescritas, mas coerentes com o ensinamento bíblico.

São Tomás chega a supor que deva haver um ensinamento vindo do tempo dos apóstolos nesse sentido. Isto é possível mas nem é efetivamente necessário. Basta que o uso das imagens não contrarie a Palavra de Deus escrita, como explicou São Tomás na resposta à primeira objeção, e que nos tenha chegado pela Tradição e pelo Magistério da Igreja, consolidado nessa questão no VII Concílio Ecumênico (Niceia II). O fato entretanto é que, mesmo no que chegou até nós (pois objetos antigos não necessariamente sobrevivem por dois mil anos) realmente Cristo é representado de várias formas (peixe, cruz, pinturas), desde os inícios do Cristianismo, e que essas representações remetem a Cristo é a razão de serem feitas, e que Cristo é adorado é da essência do Cristianismo; logo, pode-se dizer que essas representações, desde os tempos primevos, foram meios pelos quais se adorava a Cristo.

São Tomás de Aquino, portanto, não ensina a adorar imagem alguma. Ao contrário, reiteradas vezes afirma que a imagem em si mesma é mero objeto indigno de qualquer consideração. Entretanto, a imagem é meio, é, como dizemos hoje, linguagem, que remete quem a vê, a toca, àquele que é “representado”. Se este é digno de veneração, a imagem é meio de a ele venerarmos. Se é digno de adoração, é meio de adorarmos. Não se venera nem adora a coisa, mas aquele ao qual a coisa ajuda a enviar nosso pensamento. Assim, o gesto vai, externamente, à coisa, mas o sentido vai à pessoa, como àquele que amamos e de quem temos uma fotografia. Se fala o grande Teólogo em adorar uma imagem, deixa ele claro que não se trata propriamente de adorar aquela imagem (objeto), mas ao Cristo, Deus que se fez homem, ali representado, num movimento que vai para a imagem, mas visa e chega Àquele ao qual ela remete nosso pensamento. Há antes nisso, podemos dizer numa linguagem moderna, uma simplificação, pois ao dizer “adorar a imagem de Cristo” claro está o sentido de “adorar Cristo por meio de sua imagem”.


Não deve ser esquecido, entretanto, que a doutrina oficial da Igreja Católica está acessível e à disposição de todos. O texto do Catecismo é direto, em linguagem atual, destinado, como se diz, tanto aos doutos quanto aos indoutos, e visa apresentar de modo claro aquilo que é crido e ensinado pela Igreja. A honestidade na busca pela doutrina católica, portanto, deve levar antes ao Catecismo, e somente como recurso de fundamentação, compreensão histórica e crítica, a obras de séculos de idade e destinadas, já quando elaboradas, a iniciados em Filosofia e Teologia. Pinçar obras como tais, e espalhar trechos que aparentam contrariedade ao que é efetivamente ensinado pela Igreja como se fosse a fé e prática católica é algo claramente desonesto, e visa antes à difamação que à verdade. Felizmente, a verdade brilha nas trevas.

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