Lembro-me
das missas da minha infância no interior de Minas, o tom solene e
grave que acompanhava a celebração, as orações recitadas com
seriedade e respeito, o clima de reflexão e profundidade.
Nos últimos 30 anos pude observar uma mudança considerável. As missas passaram a ser celebradas com festividade, diria até excessiva festividade. As orações antes recitadas foram todas substituídas por cânticos "animados", que parecem escolhidos para manter alertas os sonolentos. O órgão foi substituído por uma gama de instrumentos, por vezes guitarras, sanfonas e baterias, e grupos de jovens substituíram os velhos corais.
Devo confessar que quando jovem eu queria uma missa rock and roll, e quando as coisas começaram a mudar para celebrações mais cantadas e "animadas", fiquei satisfeito.
Porém, hoje, não posso dizer senão que isso parece ter sido uma experiência mal sucedida.
Celebra-se a Missa porque esta é essencialmente uma festa. Mas não como um carnaval, antes como o casamento de um rei. Deus se faz presente, primeiro na oração, depois na Palavra, e enfim, em Corpo e Sangue no Sacramento da Eucaristia, o centro da Missa.
A absoluta solenidade da Missa portanto dispensa qualquer enfeite. Missa solene aliás é, bem dizer, um grande pleonasmo. Nada no mundo pode ser tão solene quanto a mais simplesmente celebrada das missas, pois nela o Deus único se faz presente em Corpo e Sangue - algo que Nosso Senhor fez questão de mostrar aos céticos repetidas vezes por meio de vários milagres eucarísticos que desafiam os homens de ciência há séculos.
Lembro-me que certa vez ouvi alguém dizer que não mais vai às missas dominicais porque "são sempre a mesma coisa". De fato, e assim devem ser pelos séculos dos séculos até o fim dos tempos. Pois a Missa não é para o homem mas para Deus, ela é sacrifício de louvor e adoração que faz memória e atualiza o sacrifício único e definitivo de Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, assim como sua ressurreição gloriosa, tudo para nossa salvação.
Isso não significa, claro, que a Missa não possa ser celebrada de maneira mais festiva. O problema é com que objetivo, a quem isso agrada, e com quais efeitos?
Quem compreende o que é a Missa não precisa de nada disso. Antes prefere o tom solene e grave no encontro com o próprio Deus que se faz comida e bebida para os pecadores.
Lembro-me de um relato do ex-protestante Dr. Scott Hahn segundo o qual ele, antes de se reconciliar com a Igreja Católica, ao assistir por curiosidade a uma missa, vendo na celebração a vivificação da Sagrada Escritura, que ele estudara em profundidade, foi de tal modo impactado que se viu impulsionado fortemente rumo à reconciliação que viria algum tempo depois.
Então, retomando a questão, qual pode ser o público alvo dessa resmodelagem que parece pretender "animar" a Missa? Precisamente quem não sabe e não entende o que é a Missa.
O problema é que, nesse caso, continua sem saber ou entender. A "animação" não ensina nada sobre o que é a Missa, qual seu significado, nada diz de seu sublime valor. A "festividade" simplesmente alcança apenas o exterior. Pode encantar os olhos, os ouvidos, o corpo, pode até criar uma sensação de euforia, mas absolutamente não faz com que aquele que não conhece o real significado da Missa passe a conhecê-lo e possa "saborear" a Missa como a um banquete do rei.
Não bastasse isso, o fato é que qualquer seita pentecostal dá de dez a zero na mais festiva das paróquias, por motivos facilmente explicáveis. Então, quem acha um problema a Missa ser sempre a mesma coisa não permanece participando por muito tempo dela, por mais "animada" que seja. Tendencialmente, irá procurar alguma seita ou algo parecido, e ainda dar "testemunho" no púlpito de que"quando era católico" não tinha espiritualidade, não tinha relacionamento com Deus, não conhecia a Sagrada Escritura etc.
O contrário também ocorre: quem sabe o que é a Missa sente-se mal e mesmo desanimado pela falta de foco, de silêncio, de reflexão e de espiritualidade numa celebração que mais parece, em certos momentos, um show de forró ou sertanejo. Há fiéis católicos que vivem à caça de uma paróquia em que as missas sejam celebradas com foco no centro e não na periferia da liturgia.
Portanto, hoje sou forçado a concluir que as missas "festivas" não têm contribuído positivamente para a Igreja. Elas tendem a afastar tanto os fiéis esclarecidos quanto os frequentadores ignorantes aos quais supostamente deveriam atrair. E assim elas tendem a colaborar tanto para o aprofundamento da ignorância quanto para a expansão das seitas.
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