Lembro-me
das missas da minha infância no interior de Minas, o tom solene e
grave que acompanhava a celebração, as orações recitadas com
seriedade e respeito, o clima de reflexão e profundidade.
Nos
últimos 30 anos pude observar uma mudança considerável. As missas
passaram a ser celebradas com festividade, diria até excessiva
festividade. As orações antes recitadas foram todas substituídas
por cânticos "animados", que parecem escolhidos para
manter alertas os sonolentos. O órgão foi substituído por uma gama
de instrumentos, por vezes guitarras, sanfonas e baterias, e grupos
de jovens substituíram os velhos corais.
Devo confessar
que quando jovem eu queria uma missa rock and roll, e quando as
coisas começaram a mudar para celebrações mais cantadas e
"animadas", fiquei satisfeito.
Porém, hoje, não
posso dizer senão que isso parece ter sido uma experiência mal
sucedida.
Celebra-se a Missa porque esta é essencialmente
uma festa. Mas não como um carnaval, antes como o casamento de um
rei. Deus se faz presente, primeiro na oração, depois na Palavra, e
enfim, em Corpo e Sangue no Sacramento da Eucaristia, o centro da
Missa.
A absoluta solenidade da Missa portanto dispensa
qualquer enfeite. Missa solene aliás é, bem dizer, um grande
pleonasmo. Nada no mundo pode ser tão solene quanto a mais
simplesmente celebrada das missas, pois nela o Deus único se faz
presente em Corpo e Sangue - algo que Nosso Senhor fez questão de
mostrar aos céticos repetidas vezes por meio de vários milagres
eucarísticos que desafiam os homens de ciência há
séculos.
Lembro-me que certa vez ouvi alguém dizer que
não mais vai às missas dominicais porque "são sempre a mesma
coisa". De fato, e assim devem ser pelos séculos dos séculos
até o fim dos tempos. Pois a Missa não é para o homem mas para
Deus, ela é sacrifício de louvor e adoração que faz memória e
atualiza o sacrifício único e definitivo de Nosso Senhor Jesus
Cristo na cruz, assim como sua ressurreição gloriosa, tudo para
nossa salvação.
Isso não significa, claro, que a Missa
não possa ser celebrada de maneira mais festiva. O problema é com
que objetivo, a quem isso agrada, e com quais efeitos?
Quem
compreende o que é a Missa não precisa de nada disso. Antes prefere
o tom solene e grave no encontro com o próprio Deus que se faz
comida e bebida para os pecadores.
Lembro-me de um relato
do ex-protestante Dr. Scott Hahn segundo o qual ele, antes de se
reconciliar com a Igreja Católica, ao assistir por curiosidade a uma
missa, vendo na celebração a vivificação da Sagrada Escritura,
que ele estudara em profundidade, foi de tal modo impactado que se
viu impulsionado fortemente rumo à reconciliação que viria algum
tempo depois.
Então, retomando a questão, qual pode ser
o público alvo dessa resmodelagem que parece pretender "animar"
a Missa? Precisamente quem não sabe e não entende o que é a
Missa.
O problema é que, nesse caso, continua sem saber
ou entender. A "animação" não ensina nada sobre o que é
a Missa, qual seu significado, nada diz de seu sublime valor. A
"festividade" simplesmente alcança apenas o exterior. Pode
encantar os olhos, os ouvidos, o corpo, pode até criar uma sensação
de euforia, mas absolutamente não faz com que aquele que não
conhece o real significado da Missa passe a conhecê-lo e possa
"saborear" a Missa como a um banquete do rei.
Não
bastasse isso, o fato é que qualquer seita pentecostal dá de dez a
zero na mais festiva das paróquias, por motivos facilmente
explicáveis. Então, quem acha um problema a Missa ser sempre a
mesma coisa não permanece participando por muito tempo dela, por
mais "animada" que seja. Tendencialmente, irá procurar
alguma seita ou algo parecido, e ainda dar "testemunho" no
púlpito de que"quando era católico" não tinha
espiritualidade, não tinha relacionamento com Deus, não conhecia a
Sagrada Escritura etc.
O contrário também ocorre: quem
sabe o que é a Missa sente-se mal e mesmo desanimado pela falta de
foco, de silêncio, de reflexão e de espiritualidade numa celebração
que mais parece, em certos momentos, um show de forró ou sertanejo.
Há fiéis católicos que vivem à caça de uma paróquia em que as
missas sejam celebradas com foco no centro e não na periferia da
liturgia.
Portanto, hoje sou forçado a concluir que as
missas "festivas" não têm contribuído positivamente para
a Igreja. Elas tendem a afastar tanto os fiéis esclarecidos quanto
os frequentadores ignorantes aos quais supostamente deveriam atrair.
E assim elas tendem a colaborar tanto para o aprofundamento da
ignorância quanto para a expansão das seitas.
Com
essa saudação do Arcanjo Gabriel começamos essa linda oração,
marca da nossa fé católica, tão íntima é ela da devoção
mariana desde os primeiros tempos.
Pensemos
na cena: aquela que seria “a Mãe do meu Senhor” lá estava em
seus afazeres. Talvez orando, ou meditando, ou cuidando da casa como
qualquer menina de sua idade naquela disntante região. E chega o
Anjo com essa saudação, que lhe foi tão espantosa.
Nós
iniciamos a nossa oração com a mesma expressão: “Ave Maria,
cheia de Graça”. Quão doces palavras que vieram do céu. Penso
que ao dizermos isso Aquele que Era, que É e que Há de Vir
certamente se regozija ao ver como amamos Sua amada Mãe, como
recitamos aquelas palavras que O anunciaram!
Imagino
Nossa Senhora sentindo um doce palpitar no seu castíssimo coração,
ao ser novamente saudada por aquelas palavras tão distantes e tão
importantes, únicas e celestiais. E como disse “sim!” naquele
tempo também diz agora: “- Sim meu filho, estou aqui!”.
Então
novamente repetimos as palavras celestiais: “o Senhor é
convosco!”. Que mulher especial! Que um Anjo do Céu lhe saúda,
lhe chama de Cheia de Graça, e diz que o Senhor é com ela. Que
adoção maravilhosa, podermos participar dessa sublime família, a
sua descendência dos que guardam os mandamentos de Deus e
testemunham Nosso Senhor Jesus Cristo.
Deus
é com Maria! Disse o Anjo. E se era naquele momento, Aquele que é
constante, não se arrepende nem volta atrás, muito mais é com Ela
agora, quando ela dizendo Sim! tornou-se mãe de Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo, e de todos aqueles que fazem a sua vontade,
pois Ele disse “este é meu irmão e minha irmã”
Ah
se soubéssemos do céu que Deus é com alguém, correríamos a este
com toda a força para ouvir suas palavras e pedir suas orações. E,
no entanto, sabemos que Deus é com Maria, e que, por Seu Filho,
somos também seus filhos! Que alegria! Que maravilha. Temos uma Mãe
no Céu, e Deus é com ela para sempre!
E
repetimos então aquilo que Isabel disse: “Bendita sois Vós entre
as Mulheres”, “Bendito é o Fruto do Vosso ventre (Jesus)”.
Na
oração da Ave Maria, fazemos pois este itinerário, descobrimos
nossa mãe cheia de Graça, com Deus, e então Este fruto
maravilhosíssimo nós louvamos assim, pois por Ele ela é bendita
entre as mulheres, pois bendito é o fruto do seu ventre, que é
Jesus, nosso Senhor e Salavador.
Que
mulher maravilhosa, que mulher inigualável, Mãe do nosso Salvador!
Nossa Mãe também.
Então,
que diremos diante dela, senão, ecoando as palavras de Tomé que
disse “Meu Senhor e Meu Deus!”, “Santa Maria, Mãe de Deus!”
Pois
quão santa aquela cujo Senhor é com ela, quão excelsamente santa
aquela que carregou o Santo dos Santos, pois o que lhe santifica é o
próprio Deus com ela, que também se fez Deus conosco ao se fazer
seu Filho!
Que
podemos dizer mais diante dessa mulher, que podemos dizer mais diante
dessa Mãe, tão amada por Nosso Senhor? Nada, apenas o que resume
tudo: “rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”!
Como
estamos distantes de sua santidade óh Maria! Quanto nos falta para
sermos com Deus! Quiséramos carregá-lo como vós! Somos pobres,
somos pó, servos maus, servos inúteis! Indignos sequer de pensarmos
no nome do Nosso Salvador. Tão cheios de pecado, tão sujos da
concupiscência, tão imundos e contaminados que o Senhor bem deveria
fazer-se distante de nós como os israelitas dos leprosos daquele
tempo.
Mas
o Senhor nos ama, não nos rejeita como deveria. E numa prova de
infinito amor, nos deu algo maravilhoso: uma Mãe no céu para todos
aqueles que O professam. Uma mãe cheia de Graça, que Deus é com
ela, uma mãe excelente, santa, que é mãe de Deus também.
Quando
estamos diante dela, e vemos como somos pecadores, pedimos como São
Paulo: intercede por mim! Mãe, como sou pecador, imundo e
maltrapilho, tosco e feio, roga por mim!
Uma
mãe nunca abandona seus filhos. Maria esteve com Cristo no momento
da sua dor, quando todos o abandonaram. Ela também está conosco
enquanto carregamos nossa cruz, ela não nos abandona.
E
como ela esteve com Cristo na sua morte, nós pedimos que ela
interceda por nós no momento mais solitário e amedrontador da nossa
existência. Mãe, roga por nós, conduz-nos a Vosso Filho
Santíssimo!
Às vezes nos deparamos com
críticas, vindas de adeptos de outras religiões, contra os traços
de cultura católica do nosso povo. Insurgem-se contra feriados
católicos, festas que honram figuras típicas do Catolicismo, como a
Virgem Maria, questionam reformas de igrejas antigas, a aplicação
de provas públicas aos sábados (com o que não concordam os
adventistas), etc. Essas críticas simplesmente desconsideram que,
embora o Estado seja laico, o povo brasileiro possui uma história e
uma cultura católica e impregnada de Catolicismo, a qual merece
consideração e respeito, e a qual ninguém pode pretender
simplesmente desconsiderar e apagar.
Um exemplo imaginário pode
nos ajudar a entender essa questão. Suponhamos que exista uma
república onde dez jovens, daquele tipo farrista, beberrão, e
namorador, moram faz alguns anos. Esse grupo já desenvolveu uma
cultura própria, e regras próprias, um verdadeiro estilo de vida.
Eles fazem churrascos regados a cerveja quase todos os dias, suas
namoradas dormem na república e dividem com eles a cama
frequentemente, o rock and roll em alto e bom som é frequentemente
ouvido até às duas da manhã. Algumas das suas regras, e são
poucas: todas as despesas são divididas igualmente, sem exceção, e
as deliberações são tomadas coletivamente pelo voto da maioria.
Agora suponhamos que um jovem
puritano, abstêmio e vegano, precisando de um local para morar, peça
ser admitido na república. Os jovens, vendo a vantagem de mais um
morador (mais um para dividir as despesas, afinal), o admitem. Ora, é
possível, e até provável, que os fanfarrões o respeitem, se ele
não quer participar dos churrascos, ou se quer assar legumes ali ao
lado das carnes, se não quer beber, se vai se deitar cedo, tudo bem.
Justo, razoável e provável que os fanfarrões não o vão
incomodar, não vão interferir em seu estilo de vida.
Mas, e se o puritano recém
chegado resolver impor seu estilo de vida? Ele vai querer acabar com
os churrascos, com a música alta até a madrugada, com a cerveja,
com as visitas das namoradas... Mas ele teria apenas um voto, contra
dez. Seria natural, inevitável, e talvez justo, que ele fosse voto
vencido, e que, se insistisse em seu intento, tornasse a convivência
impossível.
Tolerância é, por definição,
a aceitação da pessoa que professa ou segue uma ideia ou crença
contrária, ou que se tem por errônea ou inadequada. Os jovens
fanfarrões, ao permitirem que o puritano vegano more entre eles e
mantenha-se seguindo seu próprio estilo de vida, estão sendo
tolerantes, mesmo sendo maioria. Já o puritano recém-chegado, se
exigir deles que mudem seu estilo de vida, estaria sendo intolerante,
mesmo sendo minoria. Ele pode condenar veementemente o estilo de vida
dos fanfarrões e até explicar-lhes que acha errado o que eles
fazem, mas não pode tentar forçá-los a mudar. E quanto às regras
do grupo, uma vez dentro dele, não se pode dizer serem injustas se
são a todos aplicadas, quanto mais que elas não impedem que o
diferente siga o seu modo de viver.
Pois bem, o Cristianismo,
embora ainda mais antigo que isso, é a religião do Ocidente faz
cerca de 1700 anos. Esse Cristianismo era unicamente o Catolicismo
até cerca de 500 anos, portanto, por cerca de 1200 anos, sendo que
Portugal manteve-se católico até recentemente. Até cerca de 100
anos atrás, o Catolicismo era a religião oficial do Brasil.
Naturalmente, o Brasil é um país católico. Sua história está
ligada ao Catolicismo, com suas igrejas, figuras, símbolos, moral,
arte etc. Sua cultura está impregnada de Catolicismo. A maioria da
população ainda é católica. Mesmo grande parte dos não católicos
ainda têm influências católicas e ligações com a cultura
católica, mesmo que adaptada a outras religiões e crenças.
Assim, quando se restaura uma
igreja católica centenária, não se está investindo no patrimônio
de uma religião, mas preservando o patrimônio histórico, artístico
e cultural do nosso povo. Quando é instituído um feriado em dia de
festa para os católicos, está sendo respeitada a vontade da maioria
do nosso povo e sua cultura; quem quiser trabalhar no dia por ser de
outra religião, não está proibido, mas não pode obrigar os
outros. Quando é honrada publicamente uma figura como a Virgem
Maria, é toda uma cultura que está sendo respeitada e considerada,
numa expressão legítima do simbolismo que, mais que religioso, é
popular. Quem não quiser que não participe. Quando provas ou
atividades públicas são feitas no sábado, simplesmente está sendo
seguida a cultura arraigada do nosso povo, que a minoria adepta de
uma religião recente e exótica não pode pretender submeter a seus
caprichos, o que, longe de significar tolerância, seria a suprema
intolerância de uma minoria ditatorial.
Portanto, não procedem as
críticas daqueles que não concordam com os dias santos, os
feriados, o natal, e outros atos públicos que não se adéquam às
suas religiões. Eles são livres para seguirem a religião ou crença
que quiserem; eles têm sua liberdade religiosa respeitada, pois
ninguém os obriga a serem católicos. Mas, em Terras de Santa Cruz,
precisam respeitar a herança cultural, católica, do nosso povo.
O
Protestantismo se estrutura a partir da doutrina de que tudo deve
estar expresso na Bíblia – Sola Scriptura – a qual deve ser
interpretada livre e literalmente. Daí todas as acusações contra a
Igreja Católica seguirem a mesma ladainha: isto não está na
Bíblia, aquilo não está na Bíblia, o livro tal, capítulo,
versículo tal diz isso... a conversa de sempre.
Cabe
ressaltar a dependência total e absoluta do Protestantismo para com
o Sola Scriptura. Quando o Protestantismo surgiu o Cristianismo já
tinha cerca de 1500 anos, e a Autoridade da Igreja Católica
Apostólica Romana no Ocidente, e das Igrejas Ortodoxas no Oriente,
era algo pacífico, sem nenhuma contestação séria. A Autoridade da
Igreja vinha da sucessão apostólica do bispo de Roma, o Papa. Ser
cristão, no Ocidente, era pertencer a essa Igreja, não pertencer a
esta era não ser cristão. Como o Protestantismo não podia invocar
essa autoridade, mas precisava confrontá-la, o recurso foi proclamar
Somente a Bíblia, isto é, ninguém tem autoridade para ensinar a
fé, nem interpretar a Bíblia, e a Tradição não pode sustentar
pontos de fé.
Já
escrevi várias vezes, e até um livro (você
pode baixar e ler aqui), sobre o desacerto dessa doutrina, mas
como o tema é recorrente, escrevo esse artigo para esclarecer, de
modo simples e direto, o porque simplesmente não há motivo para dar
ouvidos aos discursos protestestantes contra a Igreja Católica.
O
problema todo é que, segundo o Sola Scriptura, tudo tem que estar
expresso na Bíblia (como os protestantes exigem que os dogmas e
práticas católicas estejam), então essa exigência mesma precisa
estar expressa na Bíblia. Óbvio!
Claro
que aí os defensores do Protestantismo apresentam este ou aquele
versículo que supostamente teriam essa doutrina implícita (espera
aí, mas não tem que estar explícito? Não é o que exigem dos
dogmas católicos?...).
Porém,
quem já estudou teoria dos conjuntos (isso inclui crianças do 5º
ano do ensino fundamental, lembra?, “pertence a”, “não
pertence a”, “está contido”, “não está contido”, e sim,
isso serve para alguma coisa!), sabe muito bem que para dizer que um
elemento não pertence a um conjunto é preciso ter o número e a
identidade de seus elementos. Como o alfabeto: o álef (letra do
alfabeto hebraico) não faz parte do alfabeto da língua portuguesa
porque este tem definidas as 26 letras que o compõem, “abcd...xyz”,
e o álef não faz parte, não pertence a esse conjunto. Em outras
palavras, só é possível haver exclusão de um conjunto, se o
conjunto é fechado, definido e determinado.
O
que isso tem a ver? Simples, se a Bíblia é o conjunto exclusivo da
Palavra de Deus, ela precisa ser um conjunto fechado, definido, com
seus elementos determinados. Mas eles são, correto? Sim, mas não
pela própria Bíblia. Não há nenhum livro bíblico que diga o
número e a identidade dos elementos (livros) que compõe a Bíblia.
Portanto, essa definição é extrabíblica. Assim, se somente vale o
que está na Bíblia, a própria Bíblia não existe...
Por
outro lado, se a própria Bíblia não define o próprio conjunto,
então ela não pode e nem poderia afirmar que esse conjunto é
exclusivo (somente ele é a Palavra de Deus). Então, vãs são todas
as tentativas de provar o Sola Scriptura com base na Escritura
(Bíblia). E se ele não está na Escritura, e se somente é verdade
o que está na Escritura, ele se destroi. E se o fundamento cai, todo
o edifício cai com ele (já viu um prédio no ar?).
Sem
o Sola Scriptura, sem o Protestantismo. Sobra a Autoridade da Igreja,
e a Tradição ao lado e integrada à Escritura. Nem tudo tem que
estar na Bíblia, e o texto da Bíblia tem interpretação oficial,
dogmática, no Magistério, em que a Igreja exerce sua Autoridade.
Portanto,
até que se prove que o afirmado acima é falso, e que o Sola
Scriptura é verdadeiro, que este é clara e expressamente ensinado
pela Bíblia (o que, na verdade, não pode ser feito, por uma questão
de lógica), nenhuma afirmação do Protestantismo contra a Igreja
Católica, nenhuma, nada, merece consideração.
Nós VENERAMOS a Virgem Maria, e temos base bíblica e tradicional para isso - Jesus não nas deu como Mãe na Cruz? Ela não é mãe dos que seguem seu filho como nos diz Apocalipse 12?
As deusas pagãs, como o próprio nome diz eram ADORADAS como deusas. Nós adoramos apenas o único e verdadeiro Deus, e por isso amamos quem O amou, especialmente aquela que O amou mais que todos os outros juntos, e que Ele mesmo ama de um modo especial, pois qual filho perfeito e santo não amaria a sua mãe plenamente?
Maria é mãe, é exemplo para os cristãos, e é irmã que ora conosco, pois como poderia amar o seu filho e desdenhar dos que O amam, e que Ele ama ardentemente a ponto de por eles ter sofrido e dado a vida?
É natural que o povo que um dia adorou falsos deuses e ídolos, seguindo mitos e fábulas, ao descobrir o verdadeiro Deus encarnado visse também a sua mãe e logo percebesse seu valor, e abandonando aqueles deuses falsos e volvendo-se a ADORAR o único e verdadeiro Deus, VENERARIA, amando e tendo como exemplo e irmãos orantes intercessores aqueles que O amam e estão na Glória, e a primeira de todos esses, não há como negar, é Maria.
O Protestantismo baseia-se no Sola Scriptura. Fato. Sola Scriptura diz "a Bíblia, nada mais que a Bíblia" (Spurgeon) e nega toda tradição extra bíblica. Fato. A Bíblia é a reunião de textos que foram escritos por diferentes pessoas em diferentes tempos e lugares. Fato. *Logo, a Bíblia foi formada depois de seus textos terem sido escritos. *Logo, seus textos não poderiam dizer somente a Bíblia, algo que ainda não existia. *Logo, o Sola Scriptura não está na Bíblia. *Logo, o Sola Scriptura é uma tradição do Protestantismo. *Logo, o Sola Scriptura nega a si mesmo. Conclusão.
Algumas pessoas têm pretendido que em 1 Coríntios 4, 6, estaria a enunciação do princípio formal do Protestantismo, Sola Scriptura, somente a Bíblia, na expressão “não ir além do que está escrito”. Façamos então uma leitura atenta dessa expressão sem ir além do que está realmente escrito.
Ocorre que o que no original, em grego, a expressão é, literalmente, “o não acima do que escrito”. É uma frase sem verbo, por isso nas traduções é acrescentado algum verbo que se supõe implícito no texto (Cf. nota NABRE). Assim a tradução envolve sempre uma conjectura sobre o significado dessa expressão, e para ser legítima deve se conformar ao contexto de todo o versículo em que São Paulo faz a admoestação de que os coríntios não devem se orgulhar por causa de um mestre em relação a outro (Fee).
A ausência de verbo faz pensar que se trate de um provérbio conhecido na época (Cevallos), sendo esta a principal interpretação desse texto (Kistemaker).
Outra conjectura, e são sempre conjecturas, é a proposta pelo teólogo protestante holandês Johannes Baljon, de que esse texto, na verdade, é um acréscimo posterior ao original, que acabou sendo copiado na sequência (glosa), algo que a crítica textual mostra ser factível.
Seja como for, uma coisa é certa, não está escrito “a Bíblia, toda a Bíblia, e nada mais que a Bíblia” (Spurgeon). Nem está escrito que tudo que deve ser crido ou obedecido encontra-se em algum ponto claramente na Bíblia (Confissão de fé de Westminster), nem que deva ser rejeitada a autoridade da Igreja, da Tradição, dos Concílios etc. (Declaração de Cambridge).
Mas se queremos saber o que está escrito de fato, está escrito que as tradições transmitidas oralmente devem ser guardadas com o mesmo zelo das transmitidas por escrito (2 Ts 2, 15), que o ensino recebido deve ser transmitido por sucessão (2 Tm 2, 2), que a igreja tem autoridade para apreciar questões de fé (Atos 15), é o corpo de Cristo que é sua cabeça (Ef 5, 23-32), estrutura-se com uma liderança visível (Mt 16, 18), e sua autoridade deve ser respeitada (Rm 13, 1-2), que a “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3, 15).
Assim não indo além do que está escrito na Bíblia, não há alternativa senão reconhecer o erro do Sola Scriptura, e de todo o Protestantismo que nele se baseia.
Referências
Gordon D. Fee, The New International Commentary on the New Testament: The First Epistle to the Corinthians, Eerdmans, 1987, p. 166, original em inglês.
Juan Carlos Cevallos e outros (eds.), Comentario Bíblico Mundo Hispano, tomo 20, 1 y 2 Corintios, Editorial Hispano, 2003, p. 68.
Simon J. Kistemaker, Comentário do Novo Testamento, Editora Cultura Cristã, 2003, pp. 194-195.
Johannes Marinus Simon Baljon, De Tekst der Brieven van Paulus aan de Romeinen, de Corinthiërs en de Galatiërs als voorwerp van de conjecturaalkritiek beschouwd, Utrecht 1884, pp. 49–51.
Charles Haddon Spurgeon, The Eternal Name, em Spurgeon's Sermons Volume 01: 1855, Christian Classics Ethereal Library, p. 289.
Começo
este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que
outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna
para espalhar vários deles em avenidas da cidade com a mensagem:
“São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino
o recado desde então. Represei qualquer reação à bobagem
estampada publicamente; hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta
em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de
ver o Brasil tornar-se evangélico. Antes explico: eu gostaria de ver
o Brasil permeado com a elegância, solidariedade, inclusão e
compaixão do Evangelho. Mas a mensagem subliminar dos outdoors, para
quem conhece a cultura do movimento evangélico, é outra. Os
evangélicos sonham com o dia em que cidade, estado e país se
convertam em massa, e a terra dos tupiniquins tenha a cara de suas
denominações.
Afirmo
que o sonho é que haja um “avivamento” religioso que leve uma
enxurrada de gente para os templos evangélicos. Não reside entre os
teólogos do movimento qualquer desejo de que valores cristãos
influenciem a cultura brasileira. Eles anelam tão somente que o
subgrupo, descendente distante dos protestantes, prevaleça. A eles
não interessa que haja um veloz crescimento numérico entre
católicos romanos; que ortodoxos sírios, russos, armênios ou
gregos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que
virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três
vezes na madeira).
Avanços
numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia
de como seria desastroso se acontecesse a tal levedação radical do
Brasil.
Imagino
uma Genebra calvinista brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam
por um puritanismo não inglês, mas moreno. Caso acontecesse, como
os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria
Gadu? Respondo: seriam execrados como diabólicos, devassos e
pervertedores dos bons costumes. Não gosto nem de pensar no destino
de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem”
do Chico. Um Brasil evangélico empobreceria, já que sobrariam as
péssimas poesias do cancioneiro gospel. As rádios tocariam sem
parar músicas horrorosas como “Vou buscar o que é meu”,
“Rompendo em Fé”.
Uma
história minimamente parecida com a dos puritanos calvinistas
provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas
seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de
Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como
Carlos Drummond de Andrade?
Como
ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os
chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais,
para que se desqualificasse Charles Darwin como “alucinado inimigo
da fé”. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como
disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia,
veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos.
Derridá nunca teria uma tradução para o português. O que dizer de
rebeldes como Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo,
seriam pesquisados como desajustados. Ganhariam rótulos para serem
desmerecidos a priori como loucos, pederastas, hereges.
Um
Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o
Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. A alegria
do futebol morreria; alguma lei proibiria ir ao estádio ou ligar
televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada de várzea,
aconteceria quando? Haveria multa ou surra para palavrão?
Um
Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político
prevaleceu. Basta uma espiada no histórico de Suas Excelências da
bancada evangélica nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para se
apavorar. Se, ainda minoria, a bancada evangélica na Câmara Federal
é campeã em faltas e em processos no STF, imagina dominando o
parlamento.
Um
Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of
life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e
moralidade não passa de cópia malfeita da cultura estadunidense.
Obcecados em implementar os “valores da família”, tão caros ao
partido republicano dos Estados Unidos, recrudesceria a teologia de
causa-e-efeito, cármica, do “quem planta, colhe”. Vingaria o
sucesso como aferidor da bênção de Deus.
Um
Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica.
Uma nova elite religiosa (os ungidos) destilaria maldição contra os
“inimigos da fé”, os “idólatras”, os “hereges”, com
mais perversidade do que aiatolás iranianos. Ficaria mais fácil
falar de inferno e mandar para lá todo mundo que rejeitasse algumas
lógicas tidas como ortodoxas.
Cada
vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro perguntando:
Como seria uma emissora liderada por evangélicos? Adianto: insípida,
brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro,
sem pestanejar, os textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto,
do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge
Amado, a qualquer livro da série “Deixados para Trás” do
fundamentalista de direita, Tim LaHaye. O demagogo Max Lucado (que
abençoou a decisão de Bush bombardear o Iraque) não calça o
chinelo de Mário Benedetti.
Toda
a teocracia um dia se tornará totalitária. Toda a tentativa de
homogeneizar a cultura precisa se valer de obscurantismo. Todo o
esforço de higienizar os costumes é moralista e hipócrita.
O
projeto cristão visa preparar para a vida. Jesus jamais pretendeu
anular os costumes de povos não-judeus. Daí ele celebrar a fé em
um centurião, adorador no paganismo romano, como especial e digna de
elogio. Cristo afirmou que, entre criteriosos fariseus, ninguém
tinha uma espiritualidade tão única e bela como daquele soldado que
se preocupou com o escravo.
Levar
a Boa Notícia – Evangelho – não significa exportar cultura,
criar dialeto ou forçar critérios morais. Na evangelização, fica
implícito que todos podem continuar a costurar, compor, escrever,
brincar, encenar, como sempre fizeram. O evangelho convoca à pratica
da justiça; cria meios de solidariedade; procura gestar homens e
mulheres distintos; imprime em pessoas o mesmo espírito que moveu
Jesus a praticar o bem.
Há
estudos sociológicos que apontam estagnação quando o movimento
evangélico chegar a 35% da população brasileira. Esperemos que
sim. Caso alcançasse a maioria, com os anseios totalitários e
teocráticos que já demonstra, o movimento desenvolveria mecanismos
para coibir a liberdade. Acontece que Deus não rivaliza a liberdade
humana, mas é seu maior incentivador.
Portanto,
Deus nos livre de um Brasil evangélico.
*
Teólogo
brasileiro, presidente nacional da Igreja Betesda, presidente do
Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, conferencista.
(Wikipédia)
Texto reproduzido de: http://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/deus-nos-livre-de-um-brasil-evangelico/.
Nota: Quando dizem que o Brasil está para ser engolido pelos "evangélicos", não podemos deixar de divulgar a opinião de um pastor protestante que percebe que isso seria um retrocesso. Não necessariamente concordamos inteiramente com todos os pontos de vista expressos no texto.
PUBLICAMOS
O BELÍSSIMO testemunho de conversão de João Marcos, leitor que
veio graciosamente compartilhar conosco sua inspiradora história.
Consideramos que o texto tenha em si grande valor, porque além de
motivar tantas outras pessoas que vivem histórias semelhantes (e que
nos contatam quase diariamente), contém uma boa lista de indicações
bibliográficas e de webpagesque
lhe foram de auxílio, – e que certamente poderão auxiliar também
a muitos outros de nossos leitores. Segue...
“Não
existem cem pessoas que odeiam a Igreja Católica, mas existem
milhões que odeiam aquilo que pensam ser a Igreja
Católica.”
(Venerável Arcebispo Fulton Sheen)
Este
é o relato da minha conversão ao Catolicismo. É uma história
pessoal, não um tratado de Teologia nem uma tentativa para converter
alguém. Escrevi este relato para organizar meus pensamentos e
facilitar quando perguntarem os motivos da minha conversão. No
decorrer do texto indiquei vários livros ao leitor interessado em
compreender os motivos que me levaram a tomar a decisão de seguir a
Igreja Católica Apostólica Romana. Ao final eu proponho um roteiro
de leituras para entender a fé católica e examinar as acusações
que fazem à Igreja.
AVISO:
Peço que leia os livros recomendados, em especial aqueles destacados
em negrito, antes de tentar rebater as palavras aqui escritas. Não
voltei para a Igreja por capricho ou comodismo; essa decisão custou
muito esforço, oração e alguns sacrifícios. Esperar o mesmo do
leitor é um ato de justiça. Quando o leitor discordar de algum
ponto, o correto é buscar conhecer mais profundamente o que ensina a
Igreja sobre o tema, o que dizem os grandes padres e apologistas
católicos e então comparar com suas crenças. Aí sim o leitor
poderá fazer um juízo sobre a fé. Só assim as suas palavras terão
valor suficiente para serem ouvidas por mim. Ou como dizia um célebre
e polêmico brasileiro: “Eu acho que o direito de ter opinião é
proporcional ao interesse sincero que você tem pelo assunto. Se você
não tem interesse pelo assunto para você sequer ler alguma coisa,
por que nós devemos ter interesse de ouvir a sua opinião? ” (True
Outspeak – 10.03.2008)
*
* *
Sempre
fui cristão. Fui batizado na Igreja Católica quando eu era um bebê.
Por volta dos meus 6 anos, eu e minha família fomos para a igreja
protestante. Desde então, minha família frequentou inúmeras
denominações, quase todas tradicionais, e nunca mais tive contato
com o catolicismo.
A
'Idade das Trevas'
Com
o advento do "Facebook" logo me envolvi em
discussões com ateus (eu prefiro chamá-los “neoateus”, por
fazerem parte de uma geração recente de ateus militantes e
superficiais cujo maior “guru” é Richard Dawkins, mas tem entre
seus expositores famosos Neil deGrasse Tyson, Sam Harris e
Christopher Hitchens). Não tardou em aparecer o famoso argumento da
Idade das Trevas: durante o período de mil anos entre 500-1500 a
Igreja Católica oprimiu o Ocidente através do misticismo e da
ocultação do conhecimento, além de perseguir oponentes por meio da
Inquisição. Isto bastava para comprovar que a religião,
especialmente o Cristianismo, está na contramão do progresso, da
ciência e da liberdade individual.
Sendo
cristão é meu dever conhecer e testemunhar da verdade. Então
comecei a estudar a tal Idade das Trevas para verificar se a Igreja
foi responsável por tamanha crueldade. Pobre de mim! Descobri que
aconteceu exatamente o contrário: num milênio de caos, fragmentação
política, invasões de povos selvagens e peste, a Igreja foi a única
instituição ocidental a manter-se estável, um verdadeiro porto
seguro. O conhecimento da época dos gregos e romanos foi preservado
através de muito trabalho dos clérigos católicos, como por exemplo
os monges copistas, responsáveis por copiar livros inteiros à mão.
Em vez de combater a ciência, a Igreja foi por muitos séculos a
única instituição a fomentar o desenvolvimento científico na
Europa. Ela foi a criadora das universidades, seus clérigos
traduziram muitas obras da época romana e grega, além de permitir
que debates acalorados com pensadores de outras culturas acontecessem
dentro das suas universidades.
Essas
e outras contribuições da Igreja Católica ao mundo ocidental estão
cuidadosamente listadas no livro "Como a Igreja Católica
construiu a Civilização Ocidental", de Thomas Woods Jr (baixe
gratuitamente aqui).
Quanto
à famosa Inquisição minha surpresa foi ainda maior:
aproximadamente 2000 pessoas foram condenadas à morte pelos
Tribunais da Inquisição medievais (1231-1400dC). Durante as
inquisições da Espanha e Portugal, as mais violentas, 6000 pessoas
morreram nos 500 anos de duração dos tribunais eclesiásticos
ibéricos. Considerando a população ibérica e europeia nos níveis
da Idade Média (bem baixos, o que aumentará o valor que mostrarei a
seguir, de forma a mostrar ao leitor o “pior caso” da
Inquisição), temos que a pior inquisição, a ibérica (de Portugal
e Espanha) condenou à morte 17 pessoas a cada 100 mil habitantes,
por ano. A inquisição medieval, mais branda, condenou à morte 0,08
pessoa a cada 100 mil habitantes, por ano (fontes: Fordham
University / Catholic
Bridge).
Só para comparar, no Brasil 22 pessoas a cada 100 mil habitantes
morreram em acidentes de trânsito (dados
de 2013).
O
grande historiador protestante Phillip Schaff afirma em seu
livro "History
of the Christian Church” (vol.
V, New York, 1907, p.524):
“Para
vergonha das igrejas protestantes, a intolerância religiosa e até a
condenação à morte continuaram muito tempo depois da Reforma. Em
Genebra esta perniciosa teoria foi posta em prática pelo Estado e
pela igreja, admitindo até mesmo o uso de tortura e do testemunho de
crianças contra seus próprios pais, com a autorização de Calvino.
Bullinger, na Segunda Confissão Helvética, anunciou o princípio
pelo qual a heresia poderia ser punida como os crimes de assassinato
ou traição.”
Não
se trata da tática petista de justificar um erro apontando o erro do
outro. Tortura é inaceitável sob qualquer ponto de vista. No
entanto, devemos ser justos e agir com a mesma rigidez no caso dos
morticínios realizados por outros grupos, como protestantes (veja o
caso dos Anabatistas e a caça às bruxas, fenômeno exclusivamente
protestante – saiba
mais aqui),
islâmicos (sem comentários, os franceses que o digam) e mesmo
ateus: durante a Revolução Francesa, que nos ensinam ter sido
fundamentada nos princípios de “Igualdade, Liberdade e
Fraternidade”, foram mortas 140 mil pessoas em cinco anos segundo a
Enciclopédia Encarta. Quer dizer, uma revolução de cunho ateu
matou 100 pessoas a cada 100 mil habitantes por ano, 5 vezes mais do
que a pior inquisição (só pra constar, no Brasil morreram 28
pessoas a cada 100 mil habitantes por homicídio em 2013: a Revolução
Francesa matou 3 vezes mais que os criminosos brasileiros).
Para
encerrar este assunto, a própria Igreja admitiu os abusos cometidos
na Inquisição. Tanto que ela abriu os arquivos da Inquisição a um
grupo de 30 historiadores reconhecidos internacionalmente, para que
eles investigassem os fatos.
Todos
esses fatos sobre a inquisição católica estão documentados em
vários livros, entre os quais destaco: "Atas do Simpósio sobre
a Inquisição" (1998), de Agostino Borromeo, "A Idade
Média que não nos ensinaram", de Regine Pernoud, "Sete
Mentiras sobre a Igreja Católica", de Diane Moczar.
Este
estudo sobre o papel essencial da Igreja Católica na Idade Média
fez com que eu a admirasse. Mas isso era só o começo. No início de
2015 decidi então conhecer a fé católica. Se o papel histórico da
Igreja Católica na Idade Média foi muito diferente do que me
ensinaram, será que a fé católica não me surpreenderia também?
Era isto o que eu precisava conferir.
Escolhi
livros que explicassem a fé católica ao público protestante e
testemunhos de conversões de protestantes ao catolicismo. São
estes: "Catholicism for Protestants", de Shane
Shaetzel, "Rome Sweet Home", de Scott e
Kimberly Hahn (encontrado no Brasil sob o título 'Todos os Caminhos
levam a Roma'), "Born Fundamentalist, born Again
Catholic", de David Currie, e "A Fé Explicada",
do Pe. Leo J. Trese. Todos os conceitos mencionados daqui em diante
foram exaustivamente explicados nesses livros.
Da
minha experiência pessoal, creio que os principais problemas dos
protestantes/evangélicos com o Catolicismo são a veneração dos
santos e de Maria. Existem outros pontos de conflito, mas estes dois
são os primeiros que surgem à mente do protestante
comum.
Naturalmente, estes foram os primeiros problemas
que procurei por explicações. Tratam-se da Intercessão dos Santos.
Por que o católico reza a Maria e aos santos? Isso não é
idolatria? Não. O católico não considera a oração uma forma de
adoração. Da mesma forma que pedimos oração a outros irmãos da
igreja, o católico pede oração a pessoas que viveram vidas
extraordinárias aqui e que agora estão vivas no Céu, diante de
Deus.
Especificamente
no caso de Maria, a mãe de Deus, creio que grande parte do problema
protestante se resolva ao compreender como os católicos entendem a
Intercessão dos Santos. Só resta acrescentar que ao católico é
dogma de fé que Maria é a criatura mais santa dentre todas as
criaturas de Deus. Os motivos dela ser assim considerada estão nos
documentos da doutrina católica, e o estudo das doutrinas marianas
chama-se Mariologia. Temos então o seguinte raciocínio:
1)
A oração dos santos é mais eficaz porque eles estão em plena
Comunhão com Deus, no Céu.
2)
Maria é a mais santa dentre todos os santos.
3)
Logo (aceitas as premissas 01 e 02), é razoável pedir que Maria
interceda por mim diante de Cristo.
Ao
entender isto, fica fácil entender também porque os católicos
devotam tantas orações e cerimônias aos santos em geral e à Maria
em particular. Eles não acreditam que santos são “deuses” e sim
que os santos, hoje no Céu, são excelentes intercessores dos
simples cristãos que estão aqui. Recomendo ler o que ensina
oficialmente a Igreja a respeito de Maria: parágrafos 963-975 do
Catecismo.
O
último conceito que é útil estudar para entender os católicos
neste assunto dos santos é a diferença entre adoração e
veneração. Adoração é o culto prestado unicamente a Deus. Assim
como na tradição judaica, o católico acredita que não existe
verdadeira adoração sem oferecimento de sacrifício, que é o que
acontece na Missa. O católico só oferece sacrifícios a Deus. Já a
veneração é uma forma de prestar homenagem, uma demonstração
pública de respeito. Da mesma maneira como homenageamos grandes
personalidades políticas, artísticas ou dos negócios, o católico
homenageia, dentro do contexto cristão, aqueles que viveram vidas
exemplares.
Ao
contrário do que muitos pensam, a Igreja tem 2 mil anos de idade e
já estudou profundamente os Mandamentos de Moisés, em especial os
dois primeiros (sobre a idolatria e imagens). O Catecismo faz um
resumo (citando a Bíblia, como sempre) nos parágrafos 2129-2132.
Então,
a meu ver, se é ilícito venerar os santos e encomendar-lhes
orações, então é muito mais ilícito homenagear qualquer pessoa
desta terra, ou pedir que algum irmão ore por mim. Se os santos, que
viveram unicamente para Cristo, são indignos de homenagem, quão
dignos seremos nós, meros mortais que não conseguem passar 01 dia
se sacrificando por Deus?
Existem muitos bons livros
dedicados a explicar a devoção mariana, seu surgimento e
desenvolvimento na História e porque ela não é uma forma de
idolatria. Recomendo três livros que tratam toda essa questão num
único volume: "Behold
your Mother",
de Tim Staples; "Mary,
Mother of the Son",
de Mark Shea e "The
Marian Mystery: Outline of a Mariology",
de Denis Farkasfalvy. Estes livros demonstram que já nos primeiros
séculos de Cristianismo havia devoção à Mãe de Deus.
Dos
motivos de não continuar protestante
Entender
essas práticas católicas serviria apenas para desmistificar a minha
visão do catolicismo. Não foi isso que me fez mudar de vida. Foi
somente quando estudei e refleti sobre dois assuntos pouco tratados
pelos protestantes que fiquei numa posição insustentável e tive
que tomar a decisão sobre minha fé.
O
principal fundamento teológico do Protestantismo, isto é, de todas
as denominações não-católicas que surgiram a partir do ano 1500 é
o Sola Scriptura. Este princípio ensina que “somente a
Escritura é a suprema autoridade em matéria de vida e doutrina; só
ela é o árbitro de todas as controvérsias” (cf.
http://mackenzie.br/6966.html, acesso em 26.7.2015). É ele que
justifica a famosa pergunta dos "evangélicos": “Onde
isso está na Bíblia?”. Esta é a pergunta que os católicos mais
escutam dos protestantes.
O
grande problema com o Sola Scriptura é que ele
mesmo não é bíblico. Você leu isso mesmo. O princípio
que afirma que a Bíblia é a única autoridade em matéria de fé
não é bíblico. Não precisa acreditar em mim. Procure na
Bíblia. Pergunte a qualquer teólogo protestante em qual parte da
Bíblia está o Sola Scriptura. Ele não saberá
responder. O que me deixou mais chocado foi descobrir que o Sola
Scriptura é simplesmente aceito como um dogma, uma ideia
que não precisa de provas [é irônico os protestantes acusarem
os católicos de dogmáticos quando a base da crença
protestante é um superdogma sem fundamento]. E isso não sou eu
quem diz:
“Existem
evidências internas e externas da inspiração e divina autoridade
das Escrituras, mas estes atributos não são passíveis de 'prova'.
A única evidência que importa é o “testemunho interno do
Espírito” no coração do leitor. Ênfase de Calvino: 'A menos que
haja essa certeza [pelo testemunho do Espírito], que é maior e mais
forte que qualquer juízo humano, será fútil defender a autoridade
da Escritura através de argumentos, ou apoiá-la com o consenso da
Igreja, ou fortalecê-la com outros auxílios. A menos que seja posto
este fundamento, ela sempre permanecerá incerta' (8.1.71).”
(Fonte:
http://mackenzie.br/6966.html acesso em 26.07.2015)
Ou
seja, a “prova” de que uma interpretação particular da Bíblia
é inspirada por Deus é uma “certeza maior e mais forte que
qualquer juízo humano”. Basta se sentir certo para estar
correto(!).
Tome
a seguinte afirmação: “Não existe verdade”. Quando alguém
afirma isso já se contradiz, porque essa mesma frase é em si mesma
uma verdade (ou a pessoa pensa que é uma verdade). Na verdade, o que
a pessoa quis dizer é: “Não existe verdade – exceto esta aqui”.
É um princípio arbitrário, afinal, só é verdade porque quem o
enuncia diz que é verdade. Um princípio falho em si mesmo
não pode ser verdade. É o mesmo problema do Sola
Scriptura.
O Sola
Scriptura não encontra fundamentação bíblica e nem
histórica. Os cristãos primitivos, aqueles que viveram nos
primeiros 300 anos depois de Cristo, nunca pronunciaram o Sola
Scriptura, pelo contrário. Todos acreditavam na necessidade
de existir uma autoridade central, outorgada pelo próprio Cristo,
para interpretar as Escrituras. Um testemunho famoso (mas não o
único) é o de Santo Agostinho: “Eu não acreditaria no Evangelho,
se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (CIC,
119). Em sentido oposto, não há nenhum registro dos primeiros
cristãos afirmando que as Escrituras são a única e suprema
autoridade na fé.
Outro
problema com o Sola
Scriptura é
que nos primeiros 300 anos de Cristianismo não existia Bíblia. É
isso mesmo. O cânon, o conjunto dos livros cristãos que
formaram a Bíblia, só foi definido e ntre 367
e 405 dC (curiosamente,
até um historiador protestante reconhece estas datas: veja
aqui). Durante
todo esse período, qual foi a autoridade suprema dos cristãos
em matéria de fé? Pior: até a invenção da imprensa em 1455
pouquíssimos livros estavam em circulação, porque eram de difícil
produção e conservação. Assim, a quem os cristãos podiam
recorrer durante quase 1500 anos, já que poucos deles tinham acesso
às Escrituras?
Além
disso, “pelos frutos os conhecereis”: hoje existem dezenas de
milhares de denominações protestantes, e cada uma delas alega
possuir a “verdadeira interpretação” das Escrituras. Quem está
falando a verdade? Qual é a verdadeira fé e a verdadeira igreja?
Qual o modo correto de interpretar a Bíblia? O que vale pra hoje e o
que não vale mais? [o Espírito Santo entraria em evidente
contradição, ensinando uma coisa a determinada comunidade e outra
coisa diferente, – muitas vezes mesmo contraditória, – a uma
outra comunidade?]
Para
ilustrar a fragilidade do Sola Scriptura, elencarei os 5
pontos levantados no vídeo abaixo [já publicado anteriormente aqui
em 'O Fiel Católico']:
1) Onde
a Bíblia diz que eu devo provar alguma coisa pela Bíblia?
2) Por
que a minha interpretação da Bíblia (em meu caso, fundamentando a
doutrina católica) está errada e a sua correta? Eu também estou me
guiando pela Bíblia, nós só discordamos no que ela quer dizer.
3) Talvez
você não está compreendendo o significado correto da Bíblia. Um
exemplo: se eu lhe escrever o seguinte bilhete: “Eu não disse que
você roubou dinheiro.” você conseguiria entendê-lo? Parece que
sim, mas uma frase de 07 palavras pode ter vários significados. Pode
ser que EU não disse que você roubou dinheiro, mas alguém disse.
Pode ser que eu não DISSE, mas posso ter escrito ou pensado que você
roubou dinheiro. Pode ser que eu não disse que VOCÊ roubou
dinheiro, posso ter falado de outra pessoa. Pode ser que eu não
disse que você ROUBOU dinheiro, você pode ter perdido ou queimado
dinheiro. Pode ser que eu não disse que você roubou DINHEIRO, você
pode ter roubado outra coisa. Uma simples frase de 07 palavras tem
pelo menos cinco significados diferentes, a depender da ênfase dada
a cada palavra. Agora me responda: não é a Bíblia muito mais
complicada que uma frase de 07 palavras?
4) O
que está em confronto não é o que a Bíblia ensina, mas o que nós
interpretamos da Bíblia.
5) De
onde vieram os livros do Novo Testamento? Como eles foram parar na
Bíblia? Quem afirma rejeitar a Tradição porque segue apenas a
Bíblia não pode fazer isso, porque foi a própria Tradição
católica quem escolheu quais livros pertencem ao Novo Testamento. Em
lugar algum a Bíblia diz quais livros fazem parte dela. Então, o
simples fato de ser “biblista” só é possível graças à
Tradição católica.
A Bíblia não caiu do Céu. Durante
quase 400 anos os cristãos lutaram para reconhecer, aos poucos, os
livros inspirados, até que concílios católicos, compostos por
bispos católicos, definiram os livros da Bíblia. Foi a autoridade
da Igreja que encerrou a discussão sobre os livros inspirados.
Então, para
encerrar este assunto Sola Scriptura, e
resumindo toda a questão: não é bíblico, não é lógico, não é
histórico e teve consequências catastróficas para o Cristianismo.
Foi um conceito inventado depois de 1500 anos de Cristianismo. Sendo
assim, é no mínimo prudente considerar que a posição católica
(de acreditar na autoridade da Bíblia, mas também na da Tradição
conservada pela Igreja) é no mínimo plausível. Não estou
pedindo para você se converter, apenas para reconhecer que não é
absurdo a Palavra de Deus não se restringir a um livro. Isto é o
mínimo que se espera de alguém honesto consigo mesmo.
Por
fim, o problema Sola Scriptura foi discutido
exaustivamente por muitos autores católicos. Alguns livros que eu
recomendaria a quem deseja saber como o católico trata esse
princípio seriam estes: "Not By Scripture Alone",
de Robert Sungenis (uma verdadeira 'bomba atômica' contra o Sola
Scriptura), e "100 Biblical Arguments Against Sola
Scriptura", de Dave Armstrong.
Diante
de tudo isso, eu não podia mais aceitar o fundamento do
Protestantismo, o Sola Scriptura. A Bíblia sozinha não
é suficiente para resolver todos os conflitos da vida cristã.
Simplesmente havia coisas demais sendo “deduzidas” (eu prefiro
dizer ‘inventadas’) no calor do momento de uma época. Isso sem
mencionar que a Bíblia é uma coleção de livros complexa
demais para que um fiel comum, sem condições de estudar grego,
latim, hebraico , aramaico, Filosofia e Teologia, pudesse interpretar
de forma mais correta que o corpo de toda a Tradição cristã de 2
mil anos. Seria muita arrogância. Foi nesse momento que eu, pelo
menos em consciência, deixei o Protestantismo.
Rome,
Sweet Home
[Nota
de Henrique Sebastião, editor de 'O Fiel Católico': o segundo
Motivo que será apresentado pelo autor para deixar o Protestantismo,
a seguir, é exatamente o mesmo Motivo final e definitivo de minha
própria conversão à Igreja de Cristo]
Deixar
o Protestantismo e todas as denominações protestantes é uma coisa.
No entanto, faltava um motivo claro e inegável para eu aceitar a
Igreja Católica.
Este motivo foi a Eucaristia.
A
Eucaristia é centro de toda a fé católica. À distância, [até
se] parece com a “Santa Ceia” dos protestantes, porém
infinitamente mais carregada de sentido e importância: o católico
acredita que na Eucaristia o pão e o vinho se transformam,
milagrosamente, no Corpo e no Sangue de Cristo. Assim, podemos dizer
com razão que o católico “absorve” o próprio Cristo, presente
de maneira real na celebração da Eucaristia. Loucura? Canibalismo?
Bom, os católicos não foram os primeiros a ouvirem essas acusações.
No
Evangelho de João, capítulo 6, o próprio Cristo profere estas
palavras:
“Na
verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a Carne do Filho
do homem, e não beberdes o seu Sangue, não tereis vida em vós
mesmos. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha Carne é
verdadeiramente Comida, e o meu Sangue verdadeiramente é Bebida.
Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e eu
nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai,
assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por mim.”
(João
6,53-57)
Logo
em seguida, pela primeira vez em seu Ministério, Jesus perde
discípulos por causa de um ensinamento. Eles consideraram essas
palavras de Jesus “muito duras” (vs 60).
A
resposta de todo protestante é alegar que Jesus disse essas palavras
no sentido figurado, isto é, comer sua Carne e beber seu Sangue
seria um símbolo. [Ora, é claro como água límpida que esta versão
é simplesmente absurda! Se fosse apenas um símbolo, por que alguns
ou muitos discípulos se escandalizariam a ponto de deixar de seguir
Jesus? Eles estavam acostumados com as parábolas do Mestre. Por que
razão apenas quando Ele ensinou que seu Corpo e Sangue,
literalmente, se tornariam Pão e Vinho, e que os verdadeiros
seguidores deveriam se alimentar dEle, criou-se tanto celeuma?]
Outro
problema com essa versão é que ela faz de Jesus um insensível que
gostava de induzir seus seguidores ao erro e à blasfêmia. Explico.
Em todo o Evangelho (nos 04 livros, Mateus, Marcos, Lucas e João)
Jesus Cristo fez questão de explicar o significado de suas palavras
quando falava por meio de linguagem simbólica, ou em parábolas.
Veja no caso do “nascer de novo” a Nicodemos (João 3) e em todas
as parábolas (semeador, joio e trigo, videira, talentos, etc). Jesus
Cristo, sendo Deus, não induz pessoas ao erro, ao pecado gravíssimo
da blasfêmia. No entanto, justamente no caso da Eucaristia, Ele se
calou. O único cenário que justifica Jesus permitir que vários dos
seus discípulos O abandonassem é por ter dito exatamente o que Ele
quis dizer. Não há forma mais clara de dizer que deveríamos beber
Seu sangue e comer Sua carne.
Além
da evidência do próprio Cristo, há a evidência histórica: já os
primeiros Apóstolos, e seus primeiros sucessores, acreditavam que
Jesus estava realmente presente no Pão e no Vinho da Ceia. É por
isso que Paulo fez a famosa advertência em 1 Coríntios 11,29:
“Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua
própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.” É
pecado grave participar da Ceia sem discernir ali o corpo de Cristo.
Ora, se fosse apenas pão e vinho como símbolos do Corpo e Sangue do
Senhor, porque esta tão severa e específica advertência?
Mais:
ainda que os protestantes insistam em dizer que a Ceia é apenas um
memorial, a palavra em aramaico que Jesus utiliza para falar de Seu
corpo na Ceia é a mesma que Ele usa para falar de Seu corpo na cruz!
Tornar o corpo de Cristo na Ceia simbólico é tornar a Crucificação
simbólica(!).
Estas
e outras provas a favor da Presença Real de Cristo na Eucaristia
estão muito bem explicadas nos livros que eu grifei no meio deste
relato. Além deles, o melhor livro sobre esse assunto provavelmente
é "O Banquete do Cordeiro", de Scott Hahn.
Sabendo
que o Cristo, capaz de sofrer uma morte cheia de torturas por nós,
não seria capaz de perder discípulos por causa de uma confusão de
palavras, eu não tenho motivos para acreditar em outra coisa que não
seja o sentido literal das palavras de Jesus: que precisamos comer
Sua carne e beber Seu sangue para ter vida em nós. E conhecendo que
na Igreja Católica eu poderei participar do Banquete do próprio
Cristo, o Noivo, o Cordeiro, e que Ele, Deus encarnado, encontra-se
fisicamente presente na Santa Missa, somente o orgulho obstinado
poderia servir de motivo para não me render à Igreja Católica
Apostólica Romana.
O
que mais eu deveria fazer se soubesse que Jesus Cristo está
fisicamente presente em algum lugar?
“E
eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos.”
(Mateus 28,20)
*
* *
Este
é o breve relato dos motivos da minha conversão ao Catolicismo. Não
tenho a intenção de torná-lo um tratado religioso ou histórico
sobre a fé católica e, por essa razão, não tratei de outros temas
de conflito com protestantes. Pra isso existem centenas de (bons)
livros, e eu posso indicar alguns ao leitor interessado e honesto, o
primeiro deles é o “manual” católico, – o CIC. – Por fim,
que estas palavras sejam acolhidas em terreno fértil, para que
produzam muitos frutos para a glória de Deus, nosso Pai.
Em
Cristo Jesus Nosso Senhor,
João
Marcos
Olímpia,
São Paulo, 28.07.2015
__________
Complemento
da bibliografia recomendada e indicações do autor
4. O
excelente (foi o primeiro livro sobre a fé católica que eu
li) "Catholicism
for Protestants",
por Shane Shaetzel. Neste livro o autor, católico bem no meio
do Bible
Belt (a
região mais protestante dos EUA), responde de maneira curta,
organizada e dentro da doutrina católica às dúvidas levantadas
pelos protestantes. É um excelente material para começar a remover
preconceitos sobre a Igreja.
6.
Testemunhos de convertidos à Igreja Católica: eu
sempre achei que só pessoas desonestas permaneceriam ou se
converteriam à Igreja Católica. Estava redondamente enganado. E foi
só depois que eu saí do meio (protestante) é que percebi como a
grande maioria dos protestantes ainda pensa isso dos católicos.
Espero que estes livros e vídeos ajudem a desmistificar esta falsa
noção:
•
"Ex-pastor
Paulo Leitão se converte ao Catolicismo", um testemunho
emocionante em vídeo (assista
aqui);
•
O
testemunho brilhante da conversão de Fábio Salgado à Igreja
Católica (repleto de dicas de livros, leia
aqui);
•
"Lista
de 201 ex-protestantes conversos ao Catolicismo" (leia
aqui);
•
Todos
os membros da "Igreja Cristã Maranatha" (Detroit, EUA) se
convertem ao Catolicismo (leia
aqui).
Com
esses testemunhos espero que o leitor entenda que pessoas com motivos
sérios, fundamentados, e com uma prática de vida piedosa,
escolheram a Igreja Católica. Não é uma escolha por conveniência,
malícia ou ignorância. Muitas dessas pessoas perderam amigos,
familiares e todo seu círculo social de uma vida inteira quando
escolheram a fé católica. Todas elas eram cristãos estudiosos,
inteligentes, conhecedores da Bíblia e ativos na vida ministerial
das suas igrejas. Se meu exemplo não basta, espero então que o
exemplo desses irmãos em Cristo o ajudem a perceber que a fé
católica não é uma mentira ou tradição de homens.